Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do
Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba
Já entrou para a história. Não podemos nem discutir. Embora não faça tanto tempo assim, temos de buscar no fundo da memória situações às quais nunca vivemos antes. Agora em março faz cinco anos que entramos na pandemia da covid. Foi exatamente em março de 2020 que ficamos estarrecidos ao saber que locais como o Shopping Center Piracicaba estavam cerrando suas portas proibindo a circulação das pessoas.
Foi
em março daquele ano que foram implantadas as medidas profundas contra a doença
que era desconhecida, não tinha cura nem vacina. Toda a sociedade vira de perna
para o ar da noite para o dia. Chegava o “novo normal”.
Até
então, as notícias ecoavam da China. Na cidade através da antiga Net, era
possível, desde novembro de 2019, assistir ao que ocorria no país através do
canal CGTN, programação chinesa em inglês para o mundo todo. Por ele desfilavam
situações que acreditávamos estar distante de nós. Ao final dos programas,
nomes e mais nomes de mortos pelo temível vírus.
A
doença se alastrou pela Europa e Ásia. Corpos eram deixados na rua, sepultamentos
eram reservadíssimos, feito às escuras e sem velórios. Em Roma, o Papa
Francisco circulou pelas ruas dando a benção de remissão dos pecados a todos
com ruas vazias, já que a ordem era ficar em casa, evitando o contato.
Pensar
que tudo isso nunca seria realidade em Piracicaba era comum. Eis que os
noticiários trazem a informação da primeira morte no município. Empresas
diminuem suas jornadas, enviam seus funcionários para casa, estabelecimentos
são obrigados a fechar. Na cidade, durante o período de restrição funcionaram
apenas supermercados e farmácias, além de hospitais e outros setores
essenciais. Estudantes tiveram que se distanciar das lousas aderindo ao EAD –
ensino a distância, desprovidos de recursos necessários como webcam, material
didático e acesso à internet. Tudo era novo.
A
necessidade de uso da máscara facial fez com que sua caixa saltasse de uma hora
para outra dos 10 reais para 120 reais. Mesmo assim, houve falta do produto,
considerado por muitos um incômodo. As ruas da cidade ficaram um marasmo. Todos
em casa. Não circulava ninguém. Até a criminalidade diminuiu.
Hospitais
montam atendimento de urgência e qualquer espirrinho era suspeito de ser covid.
Aniversários foram cancelados. Jogos do XV dispensados. Missas também cessaram.
Na TV, novelas tiveram suas gravações interrompidas e passaram a exibir
reprises. O mesmo ocorreu com o futebol. Sem jogos, vamos ao replay de partidas
clássicas da Seleção Brasileira de Futebol, muitas das Copas do Mundo de
décadas atrás.
Através
de aplicativos de mensagens, as informações estarreciam todos. “Sabe fulano ?
Morreu de covid. E fulana ? Está no hospital intubada”... Perdemos muitos
amigos. Hoje nem lembramos da neura de passar constantemente o álcool gel nas
mãos ou no material em que pegamos. Houve uma iniciativa de lavar tudo o que era
trazido do supermercado ou até de esquentar jornal com ferro de passar roupa
para evitar a propagação da covid. Com o passar dos anos e com a blindagem das várias
vacinas que foram colocadas a disposição, esquecemos disso tudo. Aperta-se as
mãos das pessoas como antes, pega-se na maçaneta sem qualquer escrúpulo e ainda
há aquele que sai do banheiro sem lavar as mãos. Cinco anos atrás isso tudo
seria uma ofensa.
Foi difícil comparar a pandemia atual – a qual não acabou ainda – com a da Gripe Espanhola em 1918. São poucos os relatos na cidade. Esperamos que algumas poucas linhas como estas possam deixar um legado para o futuro, pois como diz aquela máxima que nunca aprendemos a praticar : é olhando para os erros do passado que devemos nos espelhar no futuro para não cair nos mesmos erros.
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