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domingo, 16 de agosto de 2020

José de Alencar e seu Til



No governo Itaúna, era ministro da Justiça o Sr. José Martiniano de Alencar, cargo que assumiu em 16 de julho de 1868, no 23º. gabinete, cujo presidente era o visconde de Itaboraí.

Nesse mesmo ano, com o pseudônimo de Senio, publicou A Pata da Gazela e Gaúcho. Em 1871 publicou Tronco de Ipê, e, em 1872, Til, romance este que, em outra fase do "Os Pioneiros", fizemos uma exposição das informações deixadas nesse livro pelo autor, que provam de maneira cabal sua presença na antiga fazenda, onde mais tarde se construiu a Fazenda Carioba.

Apraz-nos dizer aos leitores que estamos nos aprofundando em detalhes para desvendar os acontecimentos que antecederam a fábrica, cuja fundação é anterior a 1884, de acordo com o "Almanaque da Província de São Paulo" desta data. (Obras raras - BN.)

Alencar tinha muitos amigos em São Paulo, onde passava as férias, destacando-se o Dr. Camarim, um dos seis da Colônica Paulistana de estudantes a quem pertenciam, também o conselho Jesuíno Marcondes e o Dr. Luiz Alvares; Dr. Antonio Nunes Aguiar, "meu imediato e êmulo, que foi depois meu amigo e colega de ano em São Paulo, era o "Aguiarzinho", filho do general de mesmo nome"; os colegas de pensão, Dr. Costa Pinto e José Brusque; os colaboradores da revista semanal Ensaios Literários, João Guilherme Whitaker, Almeida Pereira, Dr. José Machado Coelho de Castro Otaviano e Olímpio Machado, redatores da Gazeta Oficial (Como e porque sou romancista - ed. 1893, por José de Alencar).

Há uma afirmação de que o segundo volume de Till foi escrito em partes, isto é, foi enviado ao jornal à medida que o autor foi escrevendo, entre 19 de dezembro e 16 de janeiro de 1872, tempo em que foi publicado em folhetins no jornal do Rio, República.

O primeiro volume foi remetido para a impressora, sem o segundo, em 15 de dezembro, pois, na nota final aposta ao segundo volume de Guerra dos Mascates ele justifica o atraso do segundo numa desculpa truncada e à margem de dúvidas:

"A culpa é do autor e ele confessa contrito.
Poderia alegar em seu favor que logo depois de remetido à tipografia o original, teve necessidade de ir a Baependi fazer uso das águas de Caxambu, que lhe eram aconselhadas. Nem venha o leitor com sua contrariedade, lembrando que nesse decurso escrevi ele o Til para o folhetim da República. É o Till desses livros que se compõem com material próprio, fornecido pela reminiscência, e que portanto se podem escrever e viagem, sobre a perna, ou num canto de mesa de jantar." (obra citada)
Em primeiro lugar, o trecho "se compõem co material próprio, fornecido pela reminiscência", atesta que ele esteve numa fazenda, distante uma légua (6,6 km) abaixo da confluência do rio Atibaia com o Jaguari, no Piracicaba, conforme conta no livro,Til.

Em segunda análise, vamos tentar reconstituir por meio dessas informações e mais as camufladas do livro Till, naturalmente para resguardar da curiosidade pública nomes de pessoas conhecidas como Galvão, Aguiar, etc., o itinerário do autor: em 1870 deixou o Ministério da Justiça e foi a São Paulo, onde em atenção aos colegas começou o romance em apreço. O 1º volume foi publicado entre 21 de novembro a 13 de dezembro de 1871, e, naturalmente, nesta última data foi para a impressora, B. L. Garnier - Rio. Continuou a publicar o segundo volume em folhetins, que saiu em 19 de dezembro e 16 de janeiro de 1872, quando teve a necessidade de ir a Baependi, o que se deu entre aquelas datas do segundo volume, já por ser fim de ano, já por estar em férias. Em viagem pela central até Cruzeiro e dali a valou ou trôlei até Baependi, escreveu, na perna, alguns fascículos e naquela cidade escrevia na mesa de jantar. O terceiro e quarto volume foram publicados no jornal entre 18/1 a 7/2 e 10/2 a 20/03/1872, respectivamente.
 
O primeiro volume teve 19 publicações, o segundo 25, o terceiro 20 e o quarto 38 folhetins. O jornal era publicado todos os dias menos às segundas.

"Ao passar pro Campinas, soube que o bugre fora preso na véspera por gente de Aguiar, e então animou-se a volta à Santa Bárbara." (4º. vol - Til.)

Mas o autor de tantos predicados,o irrepreensível, o literato de muitos adjetivos, como político nem sempre podia oferecer o outro lado da face, assim, pensavam os editores Salvador de Mendonça e Ferreira de Mendonça em seus "retratos políticos".

"José de Alencar - eis um homem original, verdadeira contradição viva e desfazer num dia o que edificou na véspera.

Conspiração perpétua do ato contra a intenção que o concebeu.

J. de Alencar duvida de tudo: só não duvida da fortuna e quer surpreender-lhe os segredos.
A natureza tem caprichos. Há criaturas dualistas, sem perderam a unidade do seu ser.

Tal é o ministro da Justiça. É preciso distinguir o homem-idéia, do home-fato. O segundo não quer saber do primeiro.

Como um célebre personagem de um romance de Alexandre Dumas que se dia reproduzido em uma criatura inteiramente diversa em sentimentos , instintos e caráter, acreditou em dupla natureza: o autor do Guarani e é bom e mau ao mesmo tempo."

Transcrição do livro "Os Pioneiros", 1976, de Irineu Travaglia, Gráfica Portinho Cavalcanti Ltda, Rio de Janeiro

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