Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba
Li
estes dias que “Titanic”, o filme de 1997, retorna às telas esta semana. É a
terceira maior bilheteria do cinema, que junto a “Avatar” (2009) e “Avatar – O
Caminho das águas” (2022) dão o título a James Cameron como o cineasta que fez
três dos quatro filmes mais assistidos e rentáveis de toda a história.
Isso
me trouxe à memória as exibições que tivemos em Piracicaba deste filme que, por
trás de um romance meloso, mostrava o grande desastre do transatlântico naufragado
em 15 de abril de 1912. Quando lançado 25 anos atrás, “Titanic” foi exibido nas
salas do Cine Center, no Shopping Piracicaba, coordenado pelo Grupo Paris
Filmes. Era de ver o brilho nos olhos de Márcio Fraccaroli, CEO do Grupo Paris,
e do “seu” Silvio, gerente das salas, a rotatividade de pessoas que comprava
ingressos para apreciar a obra na telona. Cabe ressaltar que nesta época, houve
uma debandada muito grande do público diante das salas exibidoras motivada pelo
VHS. A fita de vídeo-cassete era a vilã por trás de tudo. Mas, nas semanas em
que o longa ficou em exibição, as salas lotaram. Ainda não havia cobrança de
estacionamento neste centro de compras.
Meses
depois, “Titanic” foi exibido por semanas a fio na Sala Grande Otelo do Cine
Arte, no complexo do Teatro Municipal Dr. Losso Netto. Era algo comum na
ocasião. Reprises por semanas. Me recordo que, por força do ofício – eu era
cinéfilo e comentava sobre cinema num jornal local e numa emissora de rádio –,
“Dirty Dancin’ – Ritmo Quente” (1987) ficou em cartaz por oito semanas na Sala
Grande Otelo.
Toda
esta rememoração nos traz a nostalgia das salas exibidoras da cidade. A rua
Benjamin Constant possuía três cinemas, de responsabilidade de Francisco Andia,
que nos anos 1960 tinha sua produtora a Águia Filmes. O primeiro era o Cine
Colonial. O segundo era o Cine Rivoli, com quase 1 mil assentos, e o último era
o Cine Paulistinha, na altura da Paulicéia. Tivemos também o Cine Politeama e o
Cine Brodway nas proximidades da praça José Bonifácio. Eles tiveram outras
denominações ao longo do tempo, assim como tivemos outros cinemas na cidade. Um
deles, nos anos 1920, situava-se na rua Governador Pedro de Toledo, onde foi a
Fábrica de Balas Petrin, hoje, filial de um supermercado. Assim, vamos nos ater
aos cinemas existentes nos anos 1980 e 1990.
Aliás,
pouco antes, entre as décadas de 1970 e 1980, era comum a fila “dobrar a
esquina” – ou as esquinas – no Rivoli. Filmes de Mazzaropi e Os Trapalhões
faziam a fila iniciar-se na Benjamin, virar a XV de Novembro e finalizar na
avenida Armando de Salles Oliveira, bem em frente a saída de emergência do
Rivoli. Foi assim, com “King Kong” (1976), “De Volta para o Futuro” (1984), “O
Segredo do Abismo” (1989) – olha James Cameron de novo – e tantos outros.
Recordo-me que ao assistir “Os Trapalhões no Planeta dos Macacos” (1976) as
únicas cadeiras vagas eram aquelas da primeira fileira, nos obrigando a uma
ginástica com o pescoço e os olhos para acompanhar o andamento das cenas na
telona. Bendito seja quem implantou a venda de cadeiras enumeradas no cinema a
exemplo do que ocorre nos ônibus e aviões !
Cabe
ressaltar que o Cine Arte tinha este nome por ser uma espécie de cinemateca.
Era uma sala pequena. Duas, se não me falha a memória. Foi lá que assisti às
reprises dos filmes “O Jovem Frankenstein” (1974) de Mel Brooks, “Metrópolis” (1984)
de Fritz Lang restaurado por Giorio Moroder e obras de Alfred Hitchcok,
liberadas por sua viúva após mais de 30 anos sem circulação.
O
Grande Otelo fechou suas portas não ao acaso. Situava-se no Teatro Losso Neto,
na rua Santa Cruz. Local de alagamentos quando chove. Alguns devem se lembrar
do Pronto Socorro Central, ali próximo, desativado por conta das inundações.
Certa noite, em 1998 ou 99, numa reprise de “Titanic” o público sente os pés
molharem ... Não era efeito ... Era a água do toró que caia lá fora adentando
no recinto. A inundação chegou a altura dos assentos, obrigando muita gente a
sair pelas janelas do banheiro. Que naufrágio ...
(Publicado no Jornal de Piracicaba de 08 de fevereiro de 2023)
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