Edson Rontani Júnior, jornalista
Pego meu celular. Não sei por que cargas d’água resolvi editar meus contatos telefônicos. Logo no início, excluo um número. “Morreu de covid”, lembrei. Mais para frente, outro excluído pelo mesmo motivo. E assim foi. Três ... quatro ... cinco ... Perdi as contas! Amigos que se tornaram estatísticas, meros números no quadro de falecimentos por este temível SARS-CoV 2, cujo estado de alerta mundial completa três anos em março.
Foi
em março de 2020 que shoppings centers cerravam suas portas por tempo
indeterminado. Jogos de futebol deixaram de ser realizados. Novelas voltaram às
reprises sem novas gravações. O #fiqueemcasa foi a hashtag do momento. E a
vacina não chegava. Quando chegou, acabou gerando muitas dúvidas. Mas criou
aquilo que se chama de imunização de rebanho.
Pelo
mundo, as pessoas morriam e eram deixadas na rua para não contaminarem os
demais. O serviço funerário atuou como nunca, com sepultamentos à noite e sem
direito a velórios ou despedidas dos familiares. Na Índia, o clamor para que os
próprios familiares cremassem seus entes pois a estrutura era insuficiente para
atender, digamos assim, a “demanda” da ocasião.
Curioso
é saber que em 8 de março de 1918 tivemos o início da pandemia anterior, data
em que foi registrada a primeira vítima fatal da gripe espanhola, que matou
cerca de 50 milhões de pessoas.
No
ano três da pandemia, as vacinas começaram a ser aplicadas ... Primeira ...
segunda ... terceira ... quarta dose ! Agora, sim ! Imunizados. Mas, para
surpresa, a covid bate em meu lar. Uma noite gelada do final de maio, nos
obriga a realizar o temível exame do cotonete. Positivo ! Esse foi o veredito
após cerca de seis horas de espera no atendimento médico, cujo passar da noite
se tornava mais gelada, fria e temerosa pois mais de 100 pessoas se acomodavam
no ambiente. “Se não estou com covid, eu pego aqui, de tanta gente tossindo ao
meu lado”, balbuciei ... Felizmente saio precavido, negativado, mas um membro
da família não teve a mesma sorte. Foram vários dias de repouso e temor por
suas consequências.
Chegamos
ao meio de 2022 e parece que a doença pandêmica deu uma trégua. Aos poucos, as
máscaras são deixadas de lado, o álcool gel demora para ser consumido ...
Relaxamos geral processo considerado natural. Tudo reabre. Não há mais
obrigatoriedade de máscaras, distanciamentos ... O ritmo retorna ao normal
prevendo eleições que se aproximariam, Copa do Mundo que foi programada para
novembro/dezembro e os encontros familiares e com amigos naquele restaurante
tradicional. A vida volta ao normal.
Mas
ainda me pego surpreso de ter perdido amigos e amigas como disse no início.
Eram números em minha lista de telefone, tornaram-se números nas divulgações de
não curados e falecidos. Foram Antonios e Marias que hoje deixam saudade no
seio familiar ou no círculo de amizade. Pessoas a quem desejávamos o bom dia
quando os encontrávamos no café nas manhãs de domingo no Mercado Municipal.
Muitos deixam saudade e tristeza demonstrando o quão terrível é esta doença conhecida
por covid/19 ou coronavírus.
“Todo
mundo vai pegar”, disse um amigo. E eu, forte, valente, fugia da doença como
quem foge do tempo que nos torna velhos. Quanto mais se foge, pior é. Ouvi
muito disso. Eis que no início deste mês, a doença bate novamente na porta de
minha residência. “Desta vez não tem jeito, vou ter que abraçar esta
‘tendência’ mundial”, disse sem muita opção. “Tomou vacina ?”, me perguntaram.
“Sim ! Quatro ! E antes que muita gente por trabalhar no setor de saúde”,
argumentei. Mas de argumento e teorias da conspiração, há muita coisa que nossa
vã filosofia possa não entender. E assim, entramos no ano quatro da pandemia
que não tem data para terminar.
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