Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba
Piracicaba
tem socializações “raízes”, como ir ao Estádio Barão da Serra Negra ver nosso
centenário XV de Novembro, dar um “rolê” no Shopping Piracicaba, caminhar pela
ESALQ, almoçar na rua do Porto e passear pelo Mercado Municipal. Pois, bem. É
este último que está aniversariando esta semana, chegando aos seus 135 anos de
fundação.
Segundo
a seção “Efemérides” do Almanak de Piracicaba 1900, foi em 5 de julho de 1888
que se inaugurou a praça do Mercado.
Quem
nunca passou por este centro de compras? De grande varejão, para um local de
uma refeição prazerosa, pela busca de um condimento ou para a mistura da
semana. Ponto de encontro para os cafés matinais aos finais de semana, como uma
forma imperdível de ver os amigos e colocar a conversa em dia. Ponto de
passagem para muitos amigos vistos pela última vez e que partiram sem se
despedir durante a atual pandemia.
Floripes
Maria D’Avila, dentista e escritora de mão cheia, descreveu muito bem suas recordações
no espaço, recebendo o prêmio Santander de Redação, alguns anos atrás, expondo
sua infância pelos corredores do Mercado.
O
Mercado Municipal surgiu numa época distante. Numa condição social diferente
daquela que temos hoje, com supermercados, hipermercados e atacadões por todos
os cantos. Era o ponto de venda da safra de hortifrutigranjeiros, num período
em que nem tudo era encontrado em prateleiras ou gôndolas. Muito menos vendidos
em pacotes ou latas como temos hoje.
Guilherme
Vitti que organizou quase toda a história de Piracicaba com o acervo da Câmara
de Vereadores, disse que Prudente de Moraes – futuro presidente da nação – foi o
responsável por esboçar a função social do Mercado. Em maio de 1887, ele mais o
dr. Paulo Pinto, ambos pertencentes à Comissão incumbida de organizar um projeto
de lei para regulamentar o funcionamento do Mercado, criam um regimento interno
com 32 artigos. Pelo jeito, foram bem exigentes.
Seu
primeiro artigo define a finalidade do Mercado: A praça do mercado é
destinada a servir de centro à compra e venda de gênero alimentícios destinados
ao consumo desta cidade, quer sejam procedentes deste município, quer de
outros.
Seu
segundo artigo prega a mudança de horário durante duas fases do ano: durante o
verão e o inverno. Curioso é ver outros artigos como o 4 que prevê o uso de quartos
reservados exclusivamente para os gêneros alimentícios. Assim como os postos de
gasolina da atualidade, o artigo 31 determina que o administrador do Mercado
afixe em lugar conveniente a tabela de preços.
O
Mercado sofreu adaptações. Assim como o seu entorno. O bolsão de estacionamento
foi denominado de praça Alfredo Cardoso, médico também homenageado com escola
no Bairro Alto, onde localizava-se uma estação de tem da Cia. Ytuana. Nascido
em Piracicaba no ano de 1876 faleceu aos 33 num trem na Estação da Sorocabana
em Charqueada em 1910. Era médico formado no Rio de janeiro em 1900. Foi
diretor clínico da Santa Casa de Piracicaba e atuava no asilo de São Pedro. Foi
o primeiro profissional a realizar cirurgia cardíaca na cidade. Teve a primeira
motocicleta motorizada da cidade, a qual encontra-se no Museu Prudente de
Moraes. Seu consultório situava-se na rua Governador Pedro de Toledo (antes rua
do Commércio e rua João Pessoa) em casarão hoje inexistente situado em frente
ao Mercado. Operava em sua própria casa.
Pelos
corredores do Mercado passaram vários políticos em períodos eleitorais. É um
local de nostalgia principalmente por encher os olhos de muitas crianças no
nosso eterno “O Cacau” de Basso Rolim, cujo negócio ainda está ativo com seus
filhos. Por ali passaram os Spironello e por lá ainda levantam cedinho de
segunda a segunda os Usberti, Pandolfe, Cenoura, Libardi, Magro e tantos outros.
Vida longa ao nosso “Mercadão”!
(Publicado no Jornal de Piracicaba em 05/07/2023)
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