Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba
É
oco por dentro. Mas dentro tem água. Um coco alimenta tanto pelo seu líquido
quanto por sua polpa. Mas não deixa de ser oco. Curioso é ver que muitos
conteúdos são ocos, mas não tão nutritivos quanto o coco que nos beneficia pelo
sabor, pelos nutriente etc etc etc ...
O
caos proporcionado pela informação nos joga num mundo sem lei tal qual o
bandido que saca a arma para duelar com o xerife no velho oeste americano. Daí
é que surge o caos da informação, do entretenimento e do conteúdo. Mas ... que
raios ?!?! Onde chegar com esta conversa ? Simples ... estamos sendo
bombardeados por conteúdos ocos todos os dias, fazendo com que isso seja uma
necessidade, criada pelo incrível poder midiático, e, assim mesmo nos
extasiamos, de tanta banalidade. Ué ! Você já notou algo enriquecedor
intelectualmente no Tik Tok ? Ou já se deu conta do modismo que vemos nesta
plataforma – e não tão somente nela – fazendo com que a sociedade mude
conceitos e comportamentos ? Isso me faz lembrar aquela máxima : não é porque
todo mundo está fazendo que está certo; e não é porque apenas uma pessoa está
fazendo que está errado. O errado é errado mesmo que todos o estejam fazendo.
Mas, a quem compete julgar ? Complicado, não ?
Nosso
papel como escritores não é lançar conceitos e ponto final. A intenção é
movimentar a “massa cinzenta” e botar os neurônios a funcionar. Dizem que a leitura
abre portas para o mundo, elucida pré-conceitos, leva-nos a novos caminhos.
Tudo bem, até aí.
Mas
algo me instigou nesta semana que se passou. Nosso ilustre diretor do JP,
Marcelo Batuíra, esteve presente na sessão de posse da Academia Piracicabana de
Letras, realizada na última quarta-feira na Câmara de Vereadores, na qual
inclusive tal nobre advogado e representante da imprensa local assumiu a
cadeira de Archimedes Dutra. Em seu pronunciamento, Batuíra foi muito feliz ao
citar que escritores, jornalistas, poetas e outros são “criadores de conteúdo”,
embora ele, com certa ironia, disse nem saber do que se trata isso.
O
embate está em seu primeiro round, numa interminável disputa. Está começando e
não se sabe onde vai parar. Filosofias elucidativas, longas páginas de livros,
conteúdo intelectual de primeira e outras manifestações aprofundadas se afastam
do conhecimento humano pelos três parágrafos cada qual com três linhas que os
estudiosos apontam como caminho para a mente humana se prender e entender determinado
assunto quando algo é postado no Instagram.
Isso
me lembra a teoria do canadense Marshall McLhuan que previa o encurtar as
barreiras e termos uma globalização interminável, criando a denominada “aldeia
global”. Ótima visão do futuro quando ele teorizou isso. Misto a isso nos vem a
memória do Grande Irmão (o Big Brother) criado por George Orwell em 1949 que
também anteviu um mundo controlado pela tecnologia, porém com poder de inibir
qualquer pensamento ou sentimento. Posso citar teorias de Eric Hobsbawn ou Gay
Talese, entre outros papas da comunicação, os quais previram tudo o que estou
comentando: a informação como meio de entreter, informar (ou desinformar ?!?),
comercializar e fazer o meio mais importante que a mensagem. As fake news são
prova disso.
Intelectuais,
propagadores da mensagem – com credibilidade por carreiras bem pontuadas –
jornalistas, escritores, historiadores e outros profissionais da comunicação
são legados a um segundo plano quando, não os criadores de conteúdo, e sim os
influenciadores digitais berram baboseiras em nossos ouvidos na telinha do
smartphone ou na TV de 56 polegadas. O filtro, me disse certa vez o radialista
Djalma de Lima ao lado do professor Alceu Marozzi de Righetto, é o profissional
como o jornalista que tem o senso de escolher o que vai falar e levar a
mensagem para seu público. Hoje todos tem o poder de ser comunicador – de forma
errada ou certa – propagando via mídia social o que bem entender. Como dito
anteriormente, não é papel aqui julgar e sim estimular o pensamento para novos
conceitos.
A
denominação de criador de conteúdo nos remete ao desktopistas do jornalismo na
primeira metade do século passado. Era o profissional que ia a campo, sondava
uma situação, chegava na redação e ditava a jornalista o que viu. Este segundo
profissional é quem fazia a matéria jornalística. Algo do tipo “ghost writer”
ainda hoje em voga, situação na qual um profissional faz um texto e outro
alguém é quem o assina, como vemos em discursos, artigos ou livros de
políticos, por exemplo. Até outro dia, as redações tinham seus revisores de
texto, trampolim na profissão para muitos jornalistas e que amargavam o ingrato
horário do final da noite, quando o jornal estava prestes a ser impresso.
Haviam filtros.
A
internet possibilitou que todos sejam criadores de conteúdo, alguns, sem
qualquer ironia, mais ocos que o conteúdo do coco citado logo no início. E
durma-se com um barulho destes !
(Publicado no Jornal de Piracicaba de 3 de setembro de 2023)
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