Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba
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“É com orgulho”. Então que vá com orgulho !
Há
50 anos (pode ter sido 49 anos também ...), fomos desfilar pela Independência
do Brasil. O local era a rua Gomes Carneiro em frente a Escola Assunção. A
conversa foi traçada entre minha pessoa, a amiga Ana Giuliani e o primo
Humberto D’Abronzo Gil. Quem puxava o “orgulho” eram minha mãe Ivete e sua irmã
(minha tia) Ivone. Lá fomos desfilar pelas imediações da escola em memória ao
mérito de Dom Pedro I, que, com um grito, tornou o Brasil independente de
Portugal. Dizem que foi assim, não sei ...
Deveria
ter sido uma manhã fria, pois estávamos uniformizados. Shorts azul escuro igual
ao agasalho de linho que cobria uma camisa branca com gola. Assim era o
uniforme deste centro de ensino que acaba de completar 130 anos. A memória pode
falhar, uma vez que tudo isso tentei alcançar com a única foto que possuo e a
qual representa o tão ímpar desfile de 7 de setembro que participei ao longo
destes últimos 50 anos.
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“É medo”. “Não. É vergonha!”. Então que fosse com medo e vergonha. Batalha que
travei comigo mesmo anos depois no ginásio. Após o Colégio Assunção passei pelo
Grupo Barão do Rio Branco e pelo Jorge Coury. O medo me consumia no caso de
errar o passo no desfile, ficar desatento com a banda, ou tentar medir a reação
do público que então se prostraria por uma das ruas centrais de Piracicaba. Era
“o medo de fazer o feio”. Acreditava que para tocar na banda, segurar bandeira
ou fazer as acrobacias então destinadas às alunas, exigia estudo ... dedicação
... honra ! Mas muitos daqueles que disso participavam, fazia por “curtição”.
“Deixa prá lá a vergonha ... Isso não me incomoda”, ouvia dos amigos.
Salvo
pelo congo ! Professores em greve no final de agosto. Que ótimo ! Me cobria
pela vergonha de expor nas ruas aos olhares atentos de pais, vizinhos e amigos
da sala de aula. Assim foi um 7 de setembro ... depois foi outro ... mais um e
eu nunca desfilei. Greve após greve.
Desfilei
sim pelas cadeiras de ensino da Escola Estadual Dr. Jorge Coury, moderna para
aquilo que eram os anos 1970. Por ali, tive sábias aulas com o professor
Franscílideo Beduschi e a “dona” Miquelina que me deram os primeiros passos de
cidadania e civismo. Dona Conceição Brasil nos ensinava a cantar o Hino
Nacional Brasileiro por obrigação como uma professora de matemática nos ensina
aritmética. “Seis de seis são 36 !”. “Conseguimos conquistar com braço forte e
não braços fortes !!! Quantas vezes vou ter que repetir?”. As palavras da
professora ainda ecoam pela minha cabeça. Unem-se ao imaginário destas mais de
cinco décadas de vida. Além de professores, eles foram líderes que nos
ensinaram o respeito e a educação através de disciplinas implantadas pelo
regime militar. Organização Social para o Trabalho (OSBP) e Educação Moral e
Cívica (EMC) ensinavam antes de tudo o respeito, a dignidade e conhecer que o
seu limite vai até onde começa o limite do outro.
“Coragem
e orgulho. Mas ... e o medo ? Que medo ?!?”. Novamente o conflito com meu ego
toma corpo. “Às favas”. Lá fui vestido de farda militar com o ombreira escrita
monitor do Tiro de Guerra desfilar nos Jogos Regionais do Interior de 1986, no
Estádio Barão da Serra Negra. Uma única volta nas laterais do campo. Foi a
apoteose. Segurava uma das bandeiras, a qual creio que tenha sido a do
município. E teve, confesso, o olhar incansável de uma atleta vinda de outra
cidade que a todo momento me fitava dando intenção de um certo paquerar.
Sabe-se quem lá era. A timidez falou mais alto que o medo ou a vergonha. E
assim foi ... De centro de atenção para público.
Nos
últimos anos acompanhei diversos desfiles sejam eles realizados sob sol ou
chuva, pela Governador Pedro de Toledo ou Boa Morte. Muitos amigos desfilaram
por esta vida e hoje além de estarem apenas na memória, ausentes deste mundo
terreno, mostraram um pouco de como é este palco chamado de vida.
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