Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba
Muito em breve deixaremos de ser acumuladores, um vício cultuado como hábito o qual aprendemos com nossos pais, os quais aprenderam com seus pais e assim por diante. Uma tradição que passa gerações.
Um
livro que nos agrada, colocamos na estante para ler um dia. E nunca mais lemos.
Uma música que adoramos retemos como aprisionamos um passarinho numa gaiola,
seja essa canção em qualquer formato disponibilizado pelo mercado, como CD, LP,
MP3. Um filme que nos fez chorar ou aflorar qualquer sensibilidade cultuamos e
também o colocamos em uma estante, seja em celuloide, VHS, DVD ... Um imenso
álbum de fotografias era aberto e colocado entre as pernas, e ao nosso lado a
família se juntava para relembrar fatos passados. Hoje a fotografia é
individual, pois fica em nosso bolso, no smartphone e quando você inventa de
mostra-la para alguém vem aquele exercício de vai e vem para adaptar o foco à
nossa cansada visão.
Assim
é com a história, perpetuada por livros físicos, fotografias impressas, filmes
e outras formas de guardar para o futuro o momento presente ou passado. Está
chegando ao fim ter em casa dezenas de livros que nos tornam mais sábios.
Revistas ? Nem falo nada. Sejam em quadrinhos, sobre tricô ou receitas, ou
informativas, já tiveram seu tempo, levando à bancarrota diversas de suas
editoras.
Bom,
tudo isso para dizer que estamos no mundo digital a muito tempo. Lembro que
entrei na internet em 1996, poucos anos depois dela comercialmente aportar no
Brasil. Não tinha o que fazer com ela. As ferramentas foram se formando aos
poucos, moldando o formato que conhecemos hoje. Celular não era smart, servia
apenas para ligações telefônicas no local em que você estivesse. Bem ... tinha
alguns lugares que não funcionava nem com reza braba, isso é verdade.
O
Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba tem sua vertente digital sobre a
história de Piracicaba. Desde a década de 2000 não mede esforços para propagar
fatos que compuseram Piracicaba, na sua ocupação, urbanização, industrialização
e tudo mais. É curioso ver fotos do passado e comparar com a atualidade,
tirando o pó de nossa “massa cinzenta” resgatando memórias afetivas de locais
ou eventos pelos quais passamos. Um homem sem passado, não tem história.
Todo
acervo que, além de provocar imensa rinite ou outras irritações alérgicas,
embasaram estudos, teses acadêmicas e resgataram o passado. O IHGP tem jornais,
livros, filmes, discos em formato físicos. Alguns inacessíveis ao público por conta
do desgaste ocasionado pelo tempo, como por exemplo o jornal “Gazeta de Piracicaba”
da década de 1880. Impossível abrir tal acervo à sociedade sendo que qualquer
folhear irá esfacelar suas páginas.
Dos
anos 2000 para cá, e olhe que são 25 anos, vários voluntários se uniram para
digitalizar esta história, como o livro de enterramentos do Cemitério da
Saudade, que hoje pode ser consultado à distância. Fotografias que definiram a
sociedade piracicabana no século passado podem ser vistas e ter download feito
pelo Flickr da entidade. E, o melhor, de forma gratuita. São hoje 10.500 registros
disponíveis com 3 milhões de visualizações individuais. Nosso Wiki pôde ser
consultado com verbetes do “Dicionário de Piracicabanos”, catalogado pelo
professor Samiel Pfromm Neto. Quer saber quem foi Fulano de Tal ? Coloca no
Wiki do IHGP e você terá sua biografia. O serviço hoje está indisponível. Tal
formato vem sendo estudado para 2025 com foco exclusivo para os descendentes de
italianos, como forma de celebrar os 150 anos da imigração dos ítalos. Livros,
antes restritos ao papel, já podem ser acessados pelo site do IHGP. Não são
e-books e sim as versões digitais em PDF do que foi impresso.
Recentemente
o IHGP uniu-se a WRPD Informática e criou o Nhô Chat, ferramenta de
inteligência artificial que auxilia a inteligência humana. Não é um buscador
como foi confundindo por algumas pessoas. Para isso já existe o Google ou o
Wikipedia. É uma ferramenta para compor mensagens, buscar informações
catalogadas no acervo do IHGP que conta atualmente com cerca de 70 livros
publicados. É uma ferramenta que colabora com pesquisas em livros e outros
meios. O Nhô Chat é recente. Ainda é um bebê que mama e está formando sua
capacidade intelectual. Ainda não é um adulto pós-graduado. Isso forma-se aos
poucos, como é a inteligência, seja artificial ou orgânica. Tem chão para
engatinhar e futuro para despontar como um bom aluno e, aí sim, virar um
mestre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário