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domingo, 29 de dezembro de 2024

Em dezembro, cartas de Piracicaba

Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba 

Estudos do professora Leandro Guerrini indicam uma preciosidade histórica no mês de dezembro quando se fala sobre Piracicaba. São diversos acontecimentos ao longo destes mais de dois séculos e meio de vida de nossa amada terrinha.

Muito antes de ser constituída oficialmente, Piracicaba é relatada em carta datada de 12 de dezembro de 1732 de Joan de Mello Rego, possivelmente escrita em nossa terra no período de destinação da sesmaria que envolveria a área geográfica a ser ocupada e povoada. Rego era piloto da Capitania que cuidava dos interesses do reino de Portugal junto às vilas e freguesias no interior. O destino de tal missiva era o seu comandante direto, Conde de Serzedas, capitão-mor da Capitania de São Paulo. No texto curiosidades como o acesso à nossa terra apenas por meio fluvial, através de canoas. A carta demorava semanas para chegar ao seu destino. É um documento oficial interessante para conhecer nossa história. Joan relata sua vinda pelo rio de “Piraçicava”, comentando sobre o envio de documentos e ouro através de arcas em mãos confiáveis. O relato diz ainda que pretende procurar moradores em nossa terra, se estes houverem. Guerrini, no Jornal de Piracicaba, edição de 18 de dezembro de 1977, diz: “o que se pode afirmar, sem sombra de contestação, é que Piracicaba já era aldeia povoada, antes da sua fundação oficial”.

Também num mês de dezembro, mais precisamente no dia 20 do ano de 1797, quando Piracicaba, oficialmente, já existia a 30 anos, e com seu devido povoamento, abrigava 550 pessoas. Foi neste dia que outra carta partiu daqui, escrita pelo capitão-general Antonio Manuel de Melo Castro e Mendonça, endereçada ao bispo dom Mateus de Abreu Pereira, na qual cita a pobreza da população a qual não proporcionava rendimento financeiro de interesse do poder administrativo. A missiva acrescenta que “como a riqueza e fertilidade do seu terreno está promettendo concideraveis vantagens aos Povos, que nella se forem estabelecer”. Vendo hoje, não resta dúvida que foi uma visão que se concretizou. Hoje é inconteste tal afirmação. A carta tinha por objetivo solicitar um padre à terra. Então distante, Piracicaba dependia que tal religioso fosse enviado de Porto Feliz ou Itu. O padre viajava por vários dias no lombo de um burro ou vinha de canoa. A demora fazia com que muitos enterramentos fossem feitos sem a devida benção da Igreja Católica. Batizados e casamentos também sofriam com isso, numa época em que estado não era laico. Leandro Guerrini, também no Jornal de Piracicaba, edição de Natal de 1977, comenta: “eram 550 almas que nem podem morrer com gosto, pois lhes faltava um confessor para os minutos extremos”.

Ainda em dezembro, dia 3 do ano de 1886, a Gazeta de Piracicaba relata a visita a Piracicaba do imperador dom Pedro II, que veio de trem da Ituana-Sorocabana. Junto a sua comitiva foi levado em veículos de tração animal para o solar Rezende, do Barão de Rezende, situado à margem direita do rio Piracicaba. Houve festa na cidade. Existem fotos, registros caríssimos nesta época, que atestam a visita.

Primeiro de dezembro de 1872 foi a data definida pela vereadores para abertura do cemitério digno da cidade. Então, Piracicaba tinha um cemitério na rua Boa Morte, proximidades do Colégio Assunção, este particular. E outro, público, na praça Tibiriçá onde hoje está o Colégio Estadual Moraes Barros. A intenção era criar um campo santo num local longe do Centro. Visto como repartição pública, o novo cemitério foi aberto, com Antonio de Almeida Viegas declarado como zelador de administrador. Trata-se do Cemitério da Saudade, que na época tinha sua entrada pela avenida Independência. Para os sepultamentos, uma enormidade burocrática, como recibo da Câmara, recibo da Igreja, e outros. No dia seguinte à sua abertura, o Barão de Rezende compra a primeira sepultura perpétua colocada a venda. E assim foram alguns fatos do mês de dezembro num longínquo passado.

(Publicado no Jornal de Piracicaba de 28 de dezembro de 2024)

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