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sábado, 22 de fevereiro de 2025

Bendito Carnaval

Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba 

Pensei em ir aos órgãos de defesa do consumidor. Mas, nada adiantaria. Me senti ludibriado dias destes ao ouvir uma canção de 1969 denominada “País Tropical”. Nela, Jorge Ben, alegremente brindava : “em fevereiro, em fevereiro, tem Carnaval, tem Carnaval”. Fevereiro acaba daqui alguns dias e nada de Carnaval ! Não pude subir à tamancas pela simpatia que tenho por Jorge Ben, mas ele sim escalou montanhas quando teve que mudar de nome para Jorge Ben Jor ao notar que recebia menos direitos autorais porque estes royalties eram repassados não a ele e sim para um quase xará seu, George Benson. Como os gringos confundiam um com outro, aí sim o nosso Jorge foi aos órgãos competentes exigir seus direitos.

Mas, afinal, quem define quando é o Carnaval ? E por que Jorge Ben (Jor) resolveu marcar na MPB fevereiro como o mês desta folia popular ? Tudo depende da Páscoa, que a grosso modo é precedida pela Quaresma. Já a Páscoa ocorre no primeiro domingo após o equinócio de março, tendo por base sua primeira lua cheia. A lua muda de fase semanalmente mas nunca cai no mesmo dia. A Páscoa exige uma marcação que vai além da lógica. Bom ! Aí a cabeça começa a embaralhar, não é ? O certo é que não teremos Carnaval em fevereiro.

Há aqueles que usam a data para descansar. Há aqueles que não lembram que a festa foi cancelada em 2021 pela pandemia da covid-19. Em 2022 embaralhou o calendário já que também não foi realizado e em alguns estados ocorreu em abril. O Brasil todo trabalhou com pessoas carrancudas. Bom, mesmo com a doença correndo solta, teve gente que comemorou sem dó algum em cada um destes anos.

Para quem gosta de história, curioso é ver como era o Carnaval na capital federal brasileira, 100 anos atrás. Quando cito capital, é bom lembrar que a Guanabara era a sede do governo brasileiro. Sim. Rio de Janeiro. Com seus torrenciais 40 graus, a Folia de Momo nos anos 1920 trazia desfile de carros alegóricos. Até aí, tudo bem. Nada de “genitália desnuda” e sim sambistas de terno, gravata e chapéu. Herança da cultura europeia que ainda imperava no país. O que era moda em países onde nevava, como França, era consumido por aqui. Demorou muito para termos uma identidade tropical.

No passado, é difícil cair no esquecimento dos Carnavais de Piracicaba. Oxalá queira que daqui a pouco não se esqueça da Banda do Bule ou do Bloco da Sapucaia, assim como já esqueceu que tivemos um Sambódromo em área da antiga Estação da Paulista no final da década de 1990. A vida se renova, as pessoas morrem, se a história não é recontada para as novas gerações, o ostracismo toma conta de tudo. Houve quem fugisse da rua Governador Pedro de Toledo no sábado de manhã, primeiro dia do Carnaval, para não ter a mão boba correndo pelas coxas ou pelos beijos fortuitos dos foliões que muitas vezes percorriam a rua do comércio com uma boa dose de cachaça. Mas havia também um público que lotava as calçadas de tal rua para ver e aplaudir a originalidade das fantasias, normalmente homens travestidos.

A cidade teve um dos mais bonitos e elaborados carnavais do interior paulista, trazendo para cá atores globais e de renome nacional. Houve até carnaval embaixo de chuva, carnaval na Armando de Salles Oliveira com aquele fedor exalado pelos bueiros que escoavam pelo córrego do Itapeva... Mas nada que acabasse com a alegria da população.

Nos clubes, muita exaltação. Coronel Barbosa, Cristóvão, Clube de Campo, Atlético, Regatas, Ítalo ... Muitos reuniam a juventude e alta sociedade, assim como os petizes nas suas matinês. Carnaval até os anos 1990 era sinônimo de comércio fechado, período em que as compras da semana teriam que ser mais gordas pois nada abria. Os tempos mudaram. Momo continua rechonchudo. A folia está aí. Mas há quem prefira passar estas festividades em Lençóis (Paulista, não!) ou em Gramado (da Esalq, num piquenique). Carnaval eu pulo. Prefiro descansar.

(Publicado no Jornal de Piracicaba de 19 de fevereiro de 2925 e na Tribuna Piracicabana de 22 de fevereiro de 2025)


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