Edson
Rontani Júnior, jornalista, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de
Piracicaba
“À Arethusa, meu grande amor, quero dedicar-te esta obra pela devoção de seu amado marido eternizando seu nome para o futuro”.
Calma ! Peralá !
Claro que isso saiu da imaginação deste autor. Mas pode ter acontecido, já que
a Fábrica de Tecidos Arethusina recebeu este nome por admiração que Arethusa
Miranda recebia de seu marido, Rodolpho Nogueira da Rocha, fluminense de
Rezende nascido em 1860 e falecido em São Paulo em 1941.
Foi ele um dos
proprietários daquilo que conhecemos por Boyes. Eram outras épocas, sendo que
Arethusina foi a segunda de três denominações que o espaço recebeu. Devoção
amorosa de um empreendedor à sua consorte. Anteriormente, o nome comercial do
espaço era Fábrica de Tecidos Santa Catarina e depois Companhia Industrial e
Agrícola Boyes. Há registros de Samuel Pfromm Neto de que ela teria o recebido
também o nome de Tecidos Santa Francisca, quando ainda embrião deste
empreendimento industrial.
Começou pequena. Expandiu-se aos poucos até ter sua
história encerrada em 2005 devido à abertura do mercado para o comércio chinês:
era mais barato importar a sacaria do Oriente que produzi-la por aqui. Assim
como a cidade, a empresa surgiu e sua estrutura está fincada à margem –
esquerda – do rio Piracicaba, na atual avenida Beira Rio.
De acordo com o
Almanaque de Piracicaba para 1955, organizado por Hélio M. Krahenbuhl e editado
por João Mendes Fonseca, tudo começou com um engenho d´água propriedade do
Barão de Limeira – Carlos Bartolomeu de Arruda –, local onde foi instalada uma
serraria, talvez a primeira de Piracicaba.
Em seu auge, a Arethusina, conforme relato de Mário de
Sampaio Ferraz em “Piracicaba e sua Escola Agrícola” (1916), produzia ao ano
cerca 2 bilhões de metros de tecido. A forma da produção devia-se à três
turbinas de 250 cavalos cada uma, além de duas caldeiras. Sua produção era
feita com algodão nacional em rama. Produzia fiação e
tecidos. Estava entre as 21 maiores indústrias do Estado de São Paulo,
empregando 300 funcionários.
Rodolpho Nogueira – o devotado de Arethusa – era filho do
barão do Bananal (Luiz da Rocha Miranda Sobrinho). Este foi deputado
à Constituinte de 1891 (a segunda do país e a primeira da República) e deputado
federal de 1897 a 1909. Tinha força e boa exposição na política, sendo ministro
da agricultura em 1909, no governo do presidente Nilo Peçanha.
A Boyes em foto dos anos 1960 (Acervo IHGP)
Seu filho
Rodolpho Nogueira produziu na Arethusina um dos melhores tecidos do país, igual
ao importado da França. Todo seu
tecido era consumido principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas
Gerais. Servia de base para alfaiates fazerem ternos, camisas, vestidos e
calças.
A empresa utilizou-se da massa falida da Tecidos Santa
Francisca que funcionou até 1900. Usou parte inicial da estrutura que
conhecemos hoje como Boyes. Na ocasião, foi vendida a um
sindicato, do qual fazia parte o engenheiro Buarque de Macedo.
Samuel Pfromm Netto no seu “Dicionário de Piracicabanos” (Editora
IHGP) diz que a fábrica foi adquirida e colocada como crédito para uma dívida
junto ao Banco da República do Brasil. O banco vendeu-a a Rocha Miranda que a
reativou em 1902. Seu filho homenageou a esposa Arethusa com sua nova
denominação, numa administração que durou até 1918. Depois virou a Cia. Industrial
e Agrícola Boyes, ou simplesmente Boyes, nome perpetuado até hoje.
Nesta transação surge o nome de Buarque de Macedo, que
mudou do Rio de Janeiro em 1898 para administrar a Arethusina.
“A Fábrica de Tecidos
Santa Francisca (sic), tecelagem de algodão construída em 1874 por Luiz de
Queiroz (v.) e inaugurada a 23.1.1876, tinha sido vendida a um sindicato do Rio
de Janeiro, do qual Buarque de Macedo participava”, capitula Pfromm em seu
“Dicionário”. Alguns dados contestáveis como nome e datas ... Com a aquisição,
Macedo foi um dos proprietários e gerente, residindo no palacete situado ao
lado da Arethusina, conhecido por Palacete Luiz de Queiroz, propriedade que
veio junto na transação. Macedo era empreendedor e adquiriu o Engenho Monte
Alegre em 1899 e foi um dos criadores do Jornal de Piracicaba em agosto de
1900.
Piracicaba foi
uma das primeiras cidades do país a ter energia elétrica. Não por idealismo,
mas por necessidade comercial. Para sua fábrica de tecidos funcionar com
equipamentos modernos para a época, precisava de geradores que formaram uma
usina hidrelétrica – no seu respectivo porte – fornecendo luz para a empresa e parte
da cidade, em 1892. Luiz de Queiróz instalou postes e lâmpadas vindas de Nova
Iorque. Crianças a quebravam as lâmpadas durante a noite colocando a avenida
Beira Rio na escuridão. Na época, falava-se que os Moraes Barros pagavam para
moleques destruí-las pelas divergências políticas que tinham com Luiz de
Queiroz. Se foi com bodoque ou não, nem Arethusa sabia responder. Continua ...
Publicado no Jornal de Piracicaba de 19 de novembro de 2023 e na Tribuna Piracicabana de 25 de novembro de 2023.
Nenhum comentário:
Postar um comentário