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quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Telas exibidoras em Piracicaba

Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba 

Falar em cinema no dias de hoje é evocar a nostalgia daqueles que, nos anos 1980, foram ao Tiffany, Broadway ou Cines Center 1 e 2. É relembrar uma época em que os filmes demoravam para chegar a Piracicaba. Lembrar da bala de menta comprada na bomboniere e ressaltar que a pipoca no cinema surgiu muito tempo depois, não falhando a memória, na segunda metade da década de 80 quando o Grupo Paris Filmes instalou suas lojas exibidoras no Shopping Piracicaba, comandadas pelo CEO Márcio Fracarolli e pelo gerente seu Silvio, figura de extrema educação e finesse.

Samuel Pfromm Neto tem estudo dizendo que os filmes cinematográficos possuem registros de exibição desde 1896. Em outubro deste ano, Klene e H. Mewe apresentaram aos cidadãos o “primeiro cinetógrafo projetando vistas naturais animadas”, em cinco horários seguidos. O ingresso para a novidade – a fotografia em movimento – era de 1 mil réis. E Piracicaba, entre os seus projetos pioneiros – entre eles a iluminação elétrica, a fluoretação da água e outros – fez a exibição dez meses após os Irmãos Lumière realizarem a primeira apresentação pública de cinema que se tem história, em Paris.

O cinema também percorreu pelas mãos de Antônio de Mello Filho que exibiu filmes no térreo do sobrado existente à rua Prudente de Moraes nº 112, com ingresso a 200 réis.

Já em 1901 possuía uma sala exibidora no Restaurante Porta Larga, de José Maria Fernandes, um empreendedor nato, dono de confeitaria, restaurante e uma casa de concertos líricos (ele cobrava ingressos de uma plateia que se reunia para ouvir discos – cada ingresso custava 500 réis). Adquiriu um projetor Lumière, vindo da França, no qual realizava exibições de filmes mudos.


Broadway ou Tiffany na rua São José, ao lado da praça José Bonifácio

O Teatro Santo Estêvão situado na praça 7 de Setembro (hoje José Bonifácio) foi, além de teatro, uma sala permanente de cinema. Criado em dezembro de 1908, o “Cinematógrafo Cháritas” tenha renda revertida à Santa Casa, dona do projetor de filmes. Na mesma época, em barracão situado na rua Boa Morte, tivemos o “Ideal Cinematógrafo”. Nada como conhecemos hoje. Mutas vezes, a plateia assistia em pé aos filmes, que eram curtos, ou ainda sentados em cadeiras de madeira. Os filmes eram mudos e existem registros de que para entender essa nova narrativa (estávamos acostumados com o teatro e com os livros), havia uma pessoa explicando : “olha ! o ator agora vai chorar porque a namorada lhe deu um sopapo!”. Depois veio a sonorização ao vivo com piano ou orquestra. O som só aparece no início dos anos 1930.

Hoje é comum ir às salas existentes no Shopping Piracicaba, propriedades da Cinematográfica Araújo, e ver nas filas pessoas com travesseiro ou almofadas. Sim ! Isso ocorre pois existe um conforto danado nas salas, com poltronas que reclinam como sofás ergométricos ou ficam estiradas como camas. É uma forma de fazer as pessoas saírem de casa e terem acesso a uma experiência diferente. Talvez até uma forma de atrair as pessoas numa época em que predomina o streaming. O mesmo ocorreu nos anos 1980 com as proliferações das videolocadoras. Para que sair de casa se em meu lar posso assistir ao filme que quero ?

Quando o som não era acoplado ao celuloide, a música ao vivo era executava para dar um ar especial ao que ocorria à tela e também para tirar o marasmo de muxoxos, pigarros, tosses etc etc etc. A Orquestra Piracicabana tocava em filmes e também em apresentações solo nos cinemas Íris e Politeama. Osório Dias de Aguiar e Sousa (1869/1937) foi um de seus máximos expoentes, utilizando também o pseudônimo Orênio Sabaúna. Nos anos 20, ainda jovem, Jayme Rocha de Almeida (1907/1964) era flautista nos cinemas. Depois virou agrônomo e professor da Escola Agrícola.

Erotides de Campos foi outro que animou exibições em cinemas. Foi contratado por Antônio Campos para ilustrar as apresentações cinematográficas no seu Polytheama, situado então à rua São José mais ou menos onde está hoje o Poupatempo Estadual. O cinema foi desativado e no seu interior funcionou um rinque de patinação. Os cinemas ocuparam por boas décadas a área central da cidade. O Supermercado Jaú Serve na Governador, já foi Kalunga, Shopping Zilliat, Balas Atlante e nos anos 1920 um cinema.

J. B. Andrade tinha empresa com seu nome a qual administrava os cines Broadway e São José. Um dos seus funcionários, de prenome Max, era um exímio letrista criando cartazes e letreiros. Isso tudo de forma artesanal. Além de acomodações, os cinemas também tiveram pinturas que hoje deixam boquiabertos qualquer um, como o Teatro (depois cinema) São José, cujo interior tem obras de Bruno Barcelli.  Cabe lembrar que as salas de teatro e cinema eram bem rentáveis. Eram diversões que não deixavam as pessoas presas em casa. Anos mais tarde enfrentaram a concorrência do rádio e mais depois da televisão. (I’ll be back)


(Publicado no Jornal de Piracicaba de 25/10/2023 e na Tribuna Piracicabana de 4/11/2023.

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