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quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Cartolas alvinegros

 Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba

As estrelas do futebol são aquelas entram em campo. Os jogadores são os nomes mais populares neste esporte. É por estas estrelas que a torcida exprime sua paixão. Mas nos bastidores, muitos jogam as cartas. São dirigentes, treinadores, membros de conselhos etc etc etc... São as pessoas que definem os passos do time.

O primeiro cartola do nosso E. C. XV de Novembro de Piracicaba era o capitão da Guarda Imperial Carlos Wingter (também cirurgião-dentista). Amava o esporte importado da Inglaterra que duelava, à época, com o basquete dos norte-americanos. Ambas as disputas foram incorporadas no cotidiano brasileiro no processo migratório do final do século 19. O próprio Wignter entrou em campo para chutar a pelota. Ele participou do 15 de Novembro, uma agremiação que existiu extraoficialmente em Santa Bárbara D’Oeste, no final da década de 1900. O time jogava em praça de esportes localizada no terreno em que hoje está instalada a Cia. Fiação e Tecelagem Santa Bárbara. Em 1913 ele presidiu pela primeira vez nosso XV que completa 110 anos de fundação.

Além de Wingter, outro dentista presidiu o alvinegro: Luiz Lee Holland, formado pela Escola de Odontologia Washington Luiz. Os mesmos passos foram seguidos por Enéas Lemaire de Moraes, dentista e presidente do alvinegro.

Logo no início de sua criação, os próprios jogadores eram dirigentes, como o caso de Tibúrcio de Oliveira, que além craque da pelota foi vice-presidente do alvinegro da primeira diretoria eleita pelo XV no dia 4 de dezembro de 1913. Era músico (da Banda União Operária) assim como Erotides de Campos, também membro da primeira diretoria do XV.

Entre os técnicos do passado, alguns nomes hoje são pouco lembrados, como Pelegrino Adelmo Begliomine, que antes do XV jogou no Palmeiras, Corinthians e Fluminense. Ficou na cidade no ano de 1954.

Entre os “cartolas” do alvinegro, muitos tiveram posição de destaque na sociedade, com ênfase aos comendadores nos anos 1940 a 1960. Antônio Cera Sobrinho presidiu o XV de 1956/57 e de 1960/61. O belga Louis Clement foi um mecenas para a cidade auxiliando obras como a construção da segunda torre da Matriz de Santo Antonio ou o Mosteiro das Carmelitas Descalças. No esporte, presidiu a Associação Atlética de Vila Boyes e foi conselheiro do XV. Jacob Diehl Netto foi outra personalidade que presidiu o XV. Também dirigiu por dez anos o Clube de Regatas.

O comendador Leopoldo Dedini chegou a ser vice-presidente do alvinegro local. Luiz Dias Gonzaga, prefeito da cidade nos anos 1930, também presidiu o XV (1960/61) e, em 1948, liderou ação na cidade para reforma do estádio do XV (depois Estádio Roberto Gomes Pedrosa).

Luiz De Francisco (1909/1983) atuou como futebolista, dirigente esportivo e jornalista, escrevendo e divulgando sobre o esporte local por 35 anos no JP. José Luiz Guidotti, escritor e árbitro de futebol, em 1965 também esteve à frente da presidência do time.

Cartolas de renome tiveram total envolvimento com a sociedade como Antonio Romano, Romeu Ítalo Ripoli e Humberto D’Abronzo, entre tantos outros.

D’Abronzo teve larga ascensão na cidade como industrial. Junto a Armando Dedini quis elevar o Clube Atlético Piracicabano à divisão principal do futebol, acreditando que a cidade merecia outro time além do XV nesta posição. Não deu certo. Presidiu o XV em 1966/68 quando o time retornou à divisão principal depois de ter sido rebaixado dois anos antes. Foi uma época de ouro, pois o alvinegro ganhava da municipalidade um estádio novo, o Barão da Serra Negra, e Piracicaba estava em efervescência devido às comemorações de seus 200 anos. “O entusiasmo e a dedicação extrema ao clube fizeram dele um verdadeiro baluarte do futebol, chegando a ser cotado para prefeito em 1968”, escreveu Samuel Pfromm Neto. O trabalho dos bastidores também é história.

Publicado no Jornal de Piracicaba de 15 de novembro de 2023 e na Tribuna Piracicabana de 18 de novembro de 2023


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