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sábado, 5 de agosto de 2017

Meu paciente é animal




* por Edson Rontani Júnior

No dia a dia, o dentista trata a dentição de seres humanos com os quais se relaciona. Esses podem expressar qual dente dói ou indicar dores faciais que lhes acometem. Uma área pouco conhecida, inclusive para os dentistas, é a odontologia veterinária. Tratar o canal de um leão ou curar a fratura no bico de um papagaio é realidade para Mariana Ramos da Silva (foto abaixo), médica veterinária e mestre na área pela Universidade Federal Rural de Pernambuco.


Ela atua como “dentista de animais”, ou seja, é médica veterinária com serviços voltados exclusivamente para a odontologia veterinária, atendendo as áreas presentes na odontologia convencional como periodontia (o osso que segura o dente), endodontia (canal), dentística (restaurações), ortodontia (dentes desalinhados), implantodontia (dentes perdidos), cirurgias buco-maxilo (boca, maxila, mandíbula e face) etc.
Mariana, que atualmente é residente do serviço de odontologia veterinária e cirurgia oral na Universidade de Wisconsin-Madison (EUA), diz que esta atuação é desconhecida pela maioria das pessoas, inclusive dos profissionais da odontologia.
Ela declara que a dedicação a área é necessária, pois “percebi como era grande a carência de um tratamento odontológico qualificado para os animais; da mesma forma que os problemas bucais causam dor nas pessoas, o mesmo ocorre nos animais e é preciso ter sensibilidade e responsabilidade com os seres que dependem inteiramente dos nossos cuidados”. 


Por ser uma área relativamente nova aqui no Brasil, infelizmente a falta de informação ainda existe, inclusive entre os próprios veterinários que muitas vezes, de forma equivocada, convidam dentistas para realizar procedimentos nos seus pacientes. Os dentistas, por sua vez, desconhecem a lei 5.517 que regulamenta e confere competência exclusiva ao médico veterinário na prática da clínica médica e cirúrgica em animais. Os sujeitos que desrespeitam de forma consciente ou inconsciente estão sujeitos à pena pelo exercício ilegal da profissão. “Mas este quadro está mudando; a odontologia é a especialidade dentro da Medicina Veterinária que mais tem se desenvolvido nos últimos anos e o Brasil é um centro de referência na América latina desde a criação da Associação Brasileira de Odontologia Veterinária, em 2002”, diz a profissional.

Incidências – A doença periodontal é a causa mais comum dos problemas bucais nos animais. Segundo pesquisas, mais de 85% dos cães e gatos acima de três anos são portadores da doença em algum grau. A falta de higiene bucal é um dos fatores que contribuem para este problema. Em segundo lugar, estão os tratamentos endodônticos. As fraturas dentais são muito freqüentes, principalmente nos cães. Isto ocorre porque ainda existe o hábito de dar ossos a estes animais, que impõe uma grande força na oclusão, levando à quebra dos dentes. A melhor forma de “limpar os dentes” é com escovação diária, igual àquela feita nos seres humanos.
A maior parte dos veterinários-dentistas atende, com maior freqüência, cães e gatos. Por possuírem um contato direto, dentro de casa, com os membros da família os cuidados com a saúde destes animais são um fator não só de preocupação individual com o bichinho, mas fundamentalmente uma questão de saúde pública. Neste quadro, os cães são os que mais sofrem com problemas bucais.
Mariana lembra que “a odontologia não compreende só os dentes, mas todo o complexo estomatognático, incluindo ossos faciais, músculos, articulações etc”. Nos animais não é diferente. Os bicos das aves representam sua mandíbula e maxila, além de membros articulados que usam para levar o alimento à boca. Problemas nestas estruturas como fraturas ou infecções, podem acarretar em dificuldade na apreensão dos alimentos ou até a total incapacidade de se alimentar. E a prática demonstra que o animal é mais “humano” que o homem, pois aceita a ajuda para curar-lhe de uma doença, não reclama e ... não chora ao pagar a conta ...


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