Edson Rontani Júnior, jornalista, vice-presidente do
IHGP e tesoureiro da Academia Piracicabana de Letras
Houve
um tempo em que o profissional de jornalismo era formado “na marra”. Aquele
tipo que Kirk Douglas interpretou no clássico “A montanha dos sete abutres”, de
Billy Wilder. Douglas era um repórter que postergava o resgate de uma pessoa soterrada
em uma mina. Ele tinha a forma de como tirar tal pessoa de lá. Mas, para que
tirá-la se isso dava manchete e vendia jornal? Estamos falando de um filme rodado
nos anos 1950. A realidade hoje é diferente, mas lembra em muito como a
imprensa explorou o caso dos jogadores mirins presos na caverna da Tailândia,
em 2018.
No
Brasil, a profissão foi regulamentada e tornou-se uma das poucas da área de
comunicação social a exigir diploma para ser exercida. Em 2009, cai a obrigatoriedade
de diploma para ser jornalista, dividindo a área entre aqueles que obtiveram o
registro profissional por decisão judicial e aqueles que são intitulados jornalista
profissional, que possuem diploma de graduação.
Porém,
nestas escolas – graduação acadêmica e na escola da vida – formaram-se
jornalistas de renome como Roberto Marinho, Adolpho Aizen, Samuel Weiner, Carlos
Lacerda, José Hamilton Ribeiro, David Nasser, Joel Silveira, João Saldanha
(técnico da Seleção Brasileira campeã em 1970) e tantos outros. Na campo
internacional, a sabedoria vai além das cadeiras de graduação quando nos referimos
da Gay Talese ou os ganhadores do Nobel da Paz 2021, Maria Ressa e Dmitry
Muratov.
Essas
linhas servem para reverenciar uma mente importante para nosso jornalismo
local, falecido na última sexta-feira. Izidoro Polacow nos deixou aos 100 anos
de idade. Não vi sequer uma linha sobre sua partida nas mídias e cabe aqui o
registro. Confesso que não o conheci, muito menos seu jornalismo praticado nos
anos 1960 e 1970. Mas seu nome era comumente citado em casa por meu pai,
colaborador dos jornais locais, dentre os quais estava o “Diário de Piracicaba”
onde Polacow trabalhou com outros expoentes da mídia local, que escreviam com
um olho na máquina de datilografar e outro olho na tesoura (estávamos em pleno
andamento dos Atos Institucionais, dentre eles o AI-5). Fizeram jornalismo com
maestria, escrevendo notícias que não podiam ser escritas. Até epidemia de
sarampo no interior paulista era alvo dos censores. Polacow é elogiado por
muitos que fizeram “escola” com ele.
Tivemos
nossos mestres que nos ensinaram além da graduação nas faculdades. Ensinaram “na
unha” como ter um perfil crítico, imparcial e com responsabilidade. Sebastião
Ferraz, Domarco, “Tuca”, Losso Netto, o “pai” de todos jornalistas Cecílio
Elias Netto, dentre outros vieram de escolas dos anos 1950 ou 60 numa época em
que a imprensa ainda era vista como o quarto poder constituído no Brasil. Muitos
amigos, conhecidos, profissionais passaram por aqui, e, assim como outro
jornalista que diariamente se diz “velho e cansado”, às vezes falha minha
memória nestes 42 anos dedicados ao jornalismo e a história de Piracicaba. A
história antes de mais nada precisa ser revista. Ou melhor ... escrita. As
gerações vêm e vão. Se a história não é perpetuada, acabamos caindo no
esquecimento e cada qual importância possui neste mundo terreno.
Ou
como diria nosso decano, o “tio” Cecílio: “quanto mais velho se fica na
profissão, mais se repete, mesmo porque leitores antigos vão morrendo, jovens
vão chegando e, na verdade, nada há de novo sob o sol”. Vamos em frente !
Bom Natal !
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