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quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Entrando no cinquentenário

Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba

Com imensa curiosidade iniciei-me na comunicação social ainda muito criança. Com sete anos fazia jornais em mimeógrafo como lição de casa. Em 1965 meu pai, Edson Rontani, criava o primeiro fanzine brasileiro impresso num mimeógrafo a tinta. Isso me espelhou na divulgação do conhecimento e da cultura. Já aos 11 anos, em 1979, comecei profissionalmente como um dos responsáveis pela página infantil de um jornal local, “Jornal do Povo Piracicabano”, que a cidade legou ao esquecimento. Foi lá que conheci personalidades como Emílio Moretti (diagramação), Christiano Diehl Neto (fotografia) e Paulo Markum (diretor de redação), entre outros.

Desde criança acompanhava os passos de meu pai que constantemente visitava o Isidro Polacow e Geraldo Nunes no Jornal de Piracicaba, Cecílio Elias Netto no Diário, e Evaldo Augusto Vicente, na Tribuna Piracicabana. Se não os visitava pessoalmente, deixava nas respectivas redações envelopes com suas charges, cartuns ...

Evaldo é uma pessoa ímpar. É aquele visionário incansável à quem a sociedade deve muito respeito. Pense num clássico do cinema. Lá está o jornalista como Kirk Douglas em “A Montanha dos Sete Abrutes”, ou redator Cary Grant em “Jejum de Amor”. Idealistas que fizeram o jornalismo no século passado como uma arma da comunicação, ou como se dizia até outro tempo, moviam o “quarto poder” no país.

Nascido em Laranjal Paulista, Piracicaba o adotou há várias décadas e aqui nos proporcionou amizades com toda sua família que labutou neste matutino, desde a esposa Astir Valim, e os filhos Evaldinho, Erick e Érica. Confesso que o jornalismo fez ídolos na cidade. Cecílio Elias Neto, querido “tio”, é um exemplo. Inconteste. Evaldo encaixa-se nesta galeria de baluarte da imprensa provinciana.

Quando tomei contato a primeira vez com Evaldo – não canso de repetir isso – foi em agosto de 1974. Tinha eu meus sete anos de idade. Passávamos pela Loja da Lua, no cruzamento da Alferes com Prudente e víamos – boquiabertos – uma pequena vitrina, que estampava os principais desejos de consumo da molecada. Dois quarteirões a frente, estava a redação da Tribuna – hoje é um laboratório de análises clínicas. Foi lá que Evaldo mostrou ao meu genitor, acompanhado de mim, a primeira edição de “A Tribuna”, com notas de falecimento de meu avô Humberto D’Abronzo, que partira meses antes, e do visionário Lélio Ferrari, da Rede Brasileira de Supermercados.

Na mão, um clichê. Um metal pregado a um pedaço de madeira. Coisas do século passado. A clicheria antecipou a fotolitagem posterior e o processo digital que temos hoje. Aí entra Evaldo. Passou da clicheria, do past-up e outras linguagens que não se ensinam mais nas cadeiras de graduação, para o off-set e hoje para programas como Corel Draw, InDesign, Photoshop e tantos outros que não deixam morrer a comunicação social impressa. Cabe ao dia a dia desbravar uma selva de pedra. 

Até então tínhamos pouco mais de 100 habitantes. Hoje – ou daqui a pouco – estaremos na casa do meio milhão de pessoas habitando nossa amada “Noiva da Colina”. O papel deste matutino que completa hoje seus 49 anos – ou como me disse Evaldo pelo What’s no domingo passado – entra nos seu 50º. ano de vida – é superar as mudanças tecnológicas, é criar novidades, é prender o leitor, assim como eu, ainda gosta do papel impresso e atrair leitores que já nasceram com leitores digitais como o Kindle, iPad ou até mesmo pelos aplicativos de conversação através das edições em PDF.

Outro dia, li na Veja que o papel é o meio mais fácil de se propagar a escrita. E o mais fácil de ser preservar e serem estudados. Vejam os documentos do Egito. Não importa o tipo de papel – sulfite, papiro, pele de carneiro... –, o que merece atenção é sua preservação ou conservação de sua escrita. Não apenas a mensagem e também o meio, como aprendemos na faculdade. Assim, vida longa ao papel, a Tribuna e Evaldo. E, claro, grato por todo ensinamento proporcionado a nós jornalistas ... e leitores !

(Artigo publicado na Tribuna Piracicabana de 01/08/2023)



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