Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba
Houve tempo em que o piracicabano esperava a Festa das Nações para saborear delícias disponíveis apenas neste evento. Comidas árabes, italianas, africanas ... Houve, também, um tempo em que as famílias viajavam a Campinas ou São Paulo para saborear feijoada, vinhos ... Terraço Itália, Massimo, Fogo de Chão eram alguns dos destinos.
Tivemos
lacunas como a esfirra aberta feita em forno a lenha numa casa comercial
situada na esquina das ruas Boa Morte e Riachuelo. Pena que a memória seja
falha e não me recordo o nome de tal estabelecimento. Mas recordo do seu
Chalita e seus quibes na rua Boa Morte, próximo dali, quase esquina da
Ipiranga. Isso na virada da década de 1970 para 1980. Quando tais restaurantes
fechavam, não tínhamos outras opções. Hoje, estas referências e tantas outras
estão em diversos pontos da cidade. Podem ser entregues em casa pelo aplicativo,
desde a pamonha ao cuscuz paulista. Chique era você entrar no Restaurante
Brasserie – no salão do fundo – ou do Mirante e ser bem servido pelos Lescovar
ou Benites. Hoje, consome-se na calçada, ou até em cima do asfalto, numa
ostentação que não vem ao caso neste artigo.
Comer
é uma necessidade básica. Comer bem ... ora, também é ! Vejamos a quantidade de
centros gastronômicos que temos. Rua do Porto, Nova Piracicaba, Monte Alegre
etc etc etc ...
No
passado, cabe lembrar alguns nomes que fizeram esta fama. Para isso, valho-me
de alguns escritos do passado, como o “Dicionário dos Piracicabanos” (Editora
IHGP, 2014), de Samuel Pfromm Neto. Este nos indica o italiano Ernesto Papini,
que, em 1905, instalou o Restaurante Papini na Vila Rezende, avenida Rui
Barbosa nº 490, uma das mais afamadas casas gastronômicas das duas primeiras
décadas do século passado. Acolheu o governador Ademar de Barros e o presidente
Getúlio Vargas. Funcionou até 1964 como local de festas, confraternizações,
namoros, música e jogatina. As noites concorridas eram chamadas de “Papinadas”,
com presença de músicos como Erotides de Campos, Cobrinha, além da Corporação
Banda União Operária. Foi um empreendedor pois no espaço administrava um
restaurante, bar, confeitaria e campo de bocha.
O
Jardim da Cerveja foi uma forma trazer a boemia e o bom prato junto ao
piracicabano. Funcionou no cruzamento das avenidas Independência com Carlos
Martins Sodero. Sua inauguração ocorreu em 10 de junho de 1967 e foi um dos
palcos da comemoração do bicentenário da cidade, com presença do governador
Abreu Sodré e do prefeito Luciano Guidotti. Entre os empresários que criaram o
centro gastronômico estava Armintos Raya, do Challet Paulista e Casa Raya.
De
garçonete a dona de seu próprio negócio. Como bem nos ensina Cecílio Elias
Netto em seu “Memorial de Piracicaba”, Bergardina Augusta Maygton Ribeiro
deixou São Pedro para trabalhar no bar Nova Aurora, praça José Bonifácio,
criando, em 1943, a padaria Vosso Pão, próximo ao local anterior. Deixou
história e ainda hoje o estabelecimento é reverenciado por aqueles que aqui
vivem.
Entre
os fornecedores de restaurantes estavam os Wagner (avô de Renato Wagner) e
Reynaldo Röhsler. O Almanak de Piracicaba para 1900 cita que a cidade tinha ao
menos oito cervejarias. Reynaldo dividia a rua Benjamin e sua produção de
chope, junto a cervejaria Micchi e Rutter. Outro fornecedor foi Luis Augusto de
Ledo, comerciante. No mesmo Almanak figura anúncio do Empório das Novidades
dizendo ter sortimento de vinhos, licores e outras bebidas finas.
Voltemos
algumas linhas e vamos falar de Jacob Wagner, avô de Renato. Foi proprietário
de uma fábrica de cerveja, licores e refrigerantes que funcionou onde está hoje
a rua dom Pedro II com a Benjamin Constant, no final do século 1800,
anteriormente num pequeno barracão situado à atual avenida Beira Rio, perto da
Boyes. Era atração na saída do Teatro Santo Estevão, onde comercializava sua
produção. José Zambello, italiano de nascimento, foi o responsável pela Fábrica
de Cerveja Única, em 1907, situada na avenida Rui Barbosa.
Lá
por volta dos anos 1950, funcionava a Produtos de Bebidas Paulista, na rua
Benjamin Constant, depois da avenida dr. Paulo de Moraes. Abrahão Zaidan era o
responsável. Fabricava licores, xaropes, aguardente, vermute, vinho de cana,
conhaque de uva e a Caninha Zaidan.
Não
a toa, Piracicaba mantém esta fama com as cervejarias Cevada Pura, Leuven,
Tutta Birra, Dama Bier e outras. Tradição que percorre mais de um século. E,
com isso, temos acompanhamentos gastronômicos como a pizza o dia todo, algo que
até os anos 1980 só era fabricada e consumida a noite. O pastel era item
obrigatório apenas e exclusivamente no Mercado Municipal. Hoje está em qualquer
varejão municipal e também nos aplicativos. Sinais do tempo. Nos tornamos
sedentários e muitas vezes nada satisfeitos com o prato que temos a mesa.
Para
uns, a ceia é farta. Para outros, “farta” a ceia. Pense nisso...
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