Edson Rontani Júnior, jornalista, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba
Acho um tanto quanto injusto ocupar estas linhas e falar de carnavalescos. O pecado de citar nomes é que muitos ficam de fora. E é comum eu encontrar com um ou outro conhecido e me dizerem: “você esqueceu de falar de tal coisa, de tal pessoa...”. A história é infinita, a memória não. O conhecimento também é expansível, hoje, graças à internet, na qual podemos buscar maiores referências além daquelas citadas. Isso é ótimo ! Pois aguça a curiosidade, nos faz movimentar a “massa cinzenta” e faz pensar com maior clareza.
Corro,
portanto, não o risco de esquecer uma pessoa ou uma situação, e sim me afogar
nas lágrimas de relembrar tanto de um passado que temos enquanto ser humano e
ter na nostalgia uma forma de expressar um pouco daquilo que já foi realizado
pelo Carnaval de Piracicaba.
Usemos
por exemplo, o centenário do Esporte Clube XV de Novembro de Piracicaba que, em
2013, motivou o Carnaval oficial de rua e foi tema da Banda da Sapucaia. Um
Carnaval não tão recente assim, mas que já evoca saudade. Falar da saudade é
também falar de um tempo recente ... é falar do dia de ontem que já entrou na
história. E é não se prender numa época específica, como o início do século
passado, os anos 50 ou anos 70.
Um
período em que era gostoso ver nos jornais e em suas colunas sociais as
celebridades que em nossa terra marcavam presença num destes festejos. Muitas
destas beldades clicadas pela lente de Cícero Correa dos Santos e cujas fotos
eram expostas nas vitrines de clubes como o Coronel Barbosa. Época de
entretenimento socializável em que as pessoas saíam às ruas e davam atenção ao
que ocorria em seu redor. Período em que havia filas na Banca do “seu” Pilon
atrás da Catedral para ler a capa e a última página de “Notícias Populares”,
colocadas como atrativas para uma leitura que não acrescentava nada em nossa
vida. Não sei ao certo qual ano era – poderia ter sido 1992 -, conheci e
entrevistei Elke Maravilha numa coletiva de imprensa no Hotel Beira Rio, quando
a mesma foi convidada pelo poder público municipal para abrir a apresentação
dos blocos. Não haveria Carnaval de rua naquele ano.
A
história tem carnavalescos como bem lembrou Pedro Caldari em um de seus livros
sobre a Vila Rezende. “Armandinho Dedini tinha espírito alegre ... Escolas,
creches, clubes de futebol, cordão carnavalesco, entidades assistenciais,
pessoas carentes ou dificuldades... todos podiam contar com a sua ajuda
generosa e incondicional”. Era uma espécie de mecenas da folia de Momo.
Maria
Pepa Delgado é um nome esquecido. Mas, a piracicabana nascida em 1887, expôs o
nome de nossa cidade no Rio de Janeiro, então capital federal, na década de
1900. Foram delas as principais marchinhas dos carnavais fluminenses da época,
entre elas “O maxixe” lançado pela Odeon. Um sucesso nas paradas dos bolachões
de 78 RPM.
Em
muito me vem à memória os bailes carnavalescos realizados no Ítalo, atrás do
Mercado Municipal. Não que eu participasse deles, mas ao presenciar a muvuca
que se instalava na rua por ser passagem obrigatória para ir à casa de minha
avó materna. O Clube Recreativo Ítalo Brasileiro surgiu em 16 de agosto de
1951, ocupando a Sociedade Italiana de Mutuo Soccorso, situada à rua dom Pedro
I. Teve grandes eventos carnavalescos. Foi dirigido por Lélio Ferrari, Mário
Dedini, Antonio Romano e Lino Morganti (o qual tem um busto no jardim de sua
sede).
Samuel
Pfromm Neto nos ensina que bailes carnavalescos ocorriam também no andar
superior do Bar e Restaurante Comercial, de Fernando Lescovar, na virada das
décadas de 1940 para 1950. Lescovar anos depois adquiriu o Restaurante Brasserie,
por volta de 1953, explorando um delicioso espaço em frente a praça José
Bonifácio até décadas atrás. O salão reunia foliões que comemoravam o Carnaval.
Estava situado acima do Restaurante Comercial que por sua vez ocupava o andar
térreo de onde está hoje parte da Galeria Brasil, mais precisamente o Edifício
Georgetta Brasil.
Jamil
José Netto foi outro envolvido com o Carnaval. Radialista e amante da boa
locução, trocou sua natal Porto Feliz por Piracicaba onde presidiu a Ekyperalta
em 1976. Tivemos também nossa força feminina no Carnaval. Maria Luiza Piza
Oliveira e Silva, além de fundar, participava da Comissão de Frente da Equipe
Lanka. São duas agremiações icônicas na Carnaval local. Alcides Pársia também
merece sua participação no hall dos carnavalescos, sendo de sua autoria a
marcha carnavalesca “Centro do Professorado Paulista”, de 1987.
Citado
linhas atrás, Cícero Correa dos Santos era uma figura ímpar. Sua filha Célia
Regina Signorelli foi uma das maiores expoentes do Carnaval local. Cícero era
um exímio fotógrafo com seus registros impressos nas mídias locais. São
incalculáveis quantos cliques ele tirou durante sua vida. Pfromm lembra:
“graças à máquina fotográfica de Cícero, Piracicaba ganhou imagens valiosas de
festas e acontecimentos do passado notadamente do (...) carnaval”. Fundou a
Zoon-Zoon e nos desfiles anuais recebia homenagens das escolas de samba.
Nascido em Rio Claro, só recebeu – para mágoa de muitos – o título de Cidadão
Piracicabano após ter falecido. Nossas honras ...
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