Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba
Houve
um tempo em que os clubes sociais serviam de passarela para a sociedade. Eram
nestes que ocorriam os bailes, carnavais, casamentos, festividades... Muitas
vezes, restritas à elite.
Até
décadas atrás, famílias abastadas realizavam seus eventos familiares em clubes
ou centros poliesportivos públicos da cidade, como o Coronel Barbosa ou o
Ginásio Waldemar Blatkauskas. Não era ostentação. É que não havia outro espaço
para abrigar centenas de pessoas na mesma ocasião.
Com
o tempo, os Clubes Sociais adotaram também o nome Recreativo, oferecendo espaço
a céu aberto, como quiosques, churrasqueiras, piscinas e outros atrativos.
Aos
poucos, tivemos uma mudança na sua concepção. Tornaram-se acessíveis às
diversas camadas sociais. Entraram em condomínios fechados que atualmente possuem
piscinas, quadras de tênis e futebol, playground e ... olhaí de novo ! ...
churrasqueiras coletivas. Piracicaba tem hoje os remanescentes daqueles clubes
que outrora foram feitos para abrigar até dois milhares de pessoas. O Teatro São
José chegou a ter dois mil assentos. Na esteira, surgiram os centros criados
pelo Serviço S, como o Sesc, Sesi e Sest/Senat, cada qual para sua categoria
profissional.
Num
passado não tão remoto, foi possível curtir a piscina ou os carnavais no Nauti
Clube Bela Vista, no bairro Itaperu-Guaçú, assim como pegar um bronzeado na
piscina da sede campestre do Clube Coronel Barbosa em condomínio fechado logo
após Artemis. E já que falamos da Rodovia Geraldo de Barros, por que não
lembrar do Thermas Water Park, da família Andrade? Surgiu numa época em que os
“Amigos” sertanejos estavam revolucionando a música brasileira, alavancados
pela cerveja Bavária e pela Rede Globo. Fez sucesso. Abarrotou a SP-304 lá por
volta de 1988 quando se apresentaram no espaço nomes como Zezé di Camargo e
Luciano, Chitãozinho e Xororó e Leandro & Leonardo. Não era para menos. O
engavetamento para acesso o Park era quilométrico.
Mas
de um passado recente para um mais distante. Os clubes sempre deram o ar da
graça em Piracicaba. De forma curta e grossa, o “Almanak de Piracicaba para o
Anno de 1900” diz que em 9 de novembro de 1867 “dá o seu primeiro baile o Club
Semcerimonia”. Isso, portanto, há 156 anos atrás. Na época, nem se sabia o
que era o cinema, o rádio, a internet... As pessoas saiam de casa para buscar
prazer, entretenimento e sociabilidade.
Os
Clubes sempre foram pontos de encontro da sociedade. E não apenas para
festividades.
No
Teatro Santo Estêvão, citemos duas situações. A convulsão local na Revolução de
1932 teve nele seu ponto de concentração. Alberto Vollet Sachs secretariou a
primeira reunião que conseguiu 200 voluntários para a frente de batalha, os
quais partiram em 16 de julho de 1932. Não à toa, o Monumento ao Soldado
Constitucionalista situa-se à praça José Bonifácio (então praça 7 de Setembro),
de onde partiram os voluntários. Outra citação é que a Associação Comercial teve
seu embrião discutido e criado no Santo Estevão, 90 anos atrás.
Ainda
hoje reverenciado pela população, o Santo Estêvão tinha pinturas em seu
interior que evocam o supra sumo da arte. Na reforma patrocinada pelo Barão de
Rezende no início do século passado, Bonfiglio Campagnolli foi contratado para
realizar os motivos decorativos de seu interior, unindo-se às obras
anteriormente feitas por Joaquim Miguel Dutra. O Estêvão foi demolido em 1953.
Ele
foi o primeiro cinema permanente da cidade. A partir de 1908 passou a ter
exibições regulares, propriedade de José Claes. O cinema no início era de
responsabilidade da Santa Casa, proprietária do projetor. Em seguida passou
para Ribeiro de Magalhães e depois para Claes, tendo a denominação de “Theatro
Cinema” de 1910 a 1914, quando passou a ser administrada pela Claes &
Companhia.
A
arquitetura também teve sua contribuição para clubes e teatros. Orlando
Carneiro – requisitado profissional da construção – foi o responsável pelas
obras do Teatro São José, Clube Piracicabano além de reformas da Santa Casa e
do Hotel Central.
Os
palcos locais eram tão movimentados que Piracicaba também “exportou” artistas. Uma
foi Maria Pepa Delgado (1887/1945), que passou por muitos palcos locais tanto
pessoalmente quanto pelo celuloide. Na década de 1900 era uma das principais
artistas da Casa Edison do Rio de Janeiro. A lenda diz que chegou a ser confundida
como se tivesse origem espanhola, mas era piracicabana da gema. Gravou cerca de
40 títulos de sucesso na época em que os discos traziam apenas duas músicas e
rodavam em 78 RPM. Em 1908 estrelou com João de Deus o filme “Sô Lotero e Siá
Ofrásia com seus produtos na exposição”. Uma curiosidade rara de se encontrar.
O
teatro também foi onde o público estava. É o que ocorreu com o Circo Teatro
Piranha de Waldemar “Piranha” Dias (1928/1992). Tinha no circo sua família a
exemplo do que fez o Veneno, outro circense local. Esposa, filhas, genros e
neta formavam a trupe que percorria cidades. Esteve ativo até 2003. E assim, o
show deve continuar !
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