Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do
Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba
Este
ano poderei cumprimentar uns poucos amigos que aniversariam em 29 de fevereiro.
Ironia proporcionada a cada quatro anos. Mas, por que perseguimos tanto o tempo
? Ilusório ele é. Convencionalismo que nos ensinaram a agarramos após a Revolução
Industrial, que criou o dia dividido em três fases de 8 horas para trabalhar,
dormir e curtir a família. Algo tão ilusório quanto falarmos que estamos no ano
2024. Não se pode negar que estamos sim, porém da Era Cristã. A história do
Mundo e do ser humano é mais antiga.
A
contagem do tempo é universal e não vem de hoje. Curioso é ver o espanto de um
amigo de meia idade quando falei sobre rotação e translação da Terra, algo que
ele, pasmo, pareceu-me não saber do que eu falava. Didática aprendida no
primário, nas carteiras do Colégio Barão do Rio Branco, estes movimentos regem
nosso dia (e noite). Em 24 horas a Terra realiza o movimento em seu eixo,
criando a rotação. Fontes indicam que esse movimento é feito em 23 horas, 56
minutos e 4 segundos. O movimento da Terra em torno do sol é conhecido por translação
e dura 365 dias, 5 horas e 48 minutos, formando o ano. À quem descobriu isso,
nossas láureas. A quem ouviu isso estupefato – como meu amigo – as batatas !
Para
aproveitar mais a duração do dia, com o advindo da industrialização e da criação
da luz elétrica – e com ela, a vida noturna – países implantam o “horário de
verão”, adiando o relógio em uma hora evitando, assim, o excesso no consumo da
energia elétrica. No Brasil, a mais recente reintrodução do horário especial de
verão ocorre em 1985 no governo José Sarney. Mesmo período em que houve a
antecipação dos feriados. A busca do tempo era para otimizar os dias úteis. Se
um feriado ocorresse numa quinta-feira ele seria empurrado para a sexta-feira,
evitando emendas. O mesmo ocorria com os feriados que caíam na terça-feira :
eram antecipados para a segunda. Realmente isso ocorreu no Brasil.
Mas
o tempo é ilusório. E nem nos damos conta disso. Até dois milênios atrás, os
anos seguiam as fases da Lua. As estações, assim, caíam em épocas diferentes. Tivemos
na Roma antiga anos com 304 dias e 10 meses. Em seguida, o ano passou a ter 355
dias em 12 meses. Mas a cada dois anos era preciso um 13º mês de 22 ou 23 dias
para ajustar o ciclo solar ao calendário civil. Que bananada !
Surge,
então, o calendário juliano, criado com base no que os egípcios já faziam. O
ano passa a ter 365 dias, 12 meses (metade com 30 dias e outra metade com 31 –
com exceção de fevereiro que tinha 29). Estudiosos chegaram à conclusão que o
calendário teria 11 minutos a menos. Em outubro de 1582 cria-se o calendário gregoriano
(o que seguimos atualmente) anulando dez dias do calendário anterior. A lógica
do ano bissexto, era de que os anos terminados em 00 só seriam os bissextos aqueles
divisíveis por 400.
O
nome bissexto por si é uma corruptela em latim. O imperador Júlio César haveria
ordenado “ante diem bis sextum Kalendas Martias”, ou “repetir o sexto dia antes
de começar o calendário de março”. Fevereiro possui 28 dias pois dois dias
foram tirados pelos romanos para serem colocados em julho e agosto em homenagem
aos imperadores Júlio César e César Augusto. E assim caminhou a humanidade ...
Mais
estupefato fiquei eu quando, em 1995, durante passagem a Piracicaba, o ator
Mário Lago foi entrevistado na Rádio Alvorada A.M. e o locutor comentou : “o
senhor interpreta muito bem o papel do desembargador Veiga na novela De
corpo e alma”. Eis que este dispara ferozmente ao vivo: “queria o que ? Não
comecei ontem. Faço teatro desde os anos 1930 ! Não sou criança”. Silêncio
geral. Mas Lago, que era filho de Antônio de Pádua Jovita Correia do Lago –
nascido em Piracicaba em 13 de junho de 1887 – e possuía determinado parentesco
com Manuel do Lago, proprietário do Hotel Lago, ao lado do Teatro Santo Estêvão,
esculpiu a máxima : “Eu fiz um acordo com o tempo. Nem ele me persegue, nem eu
fujo dele”. E passemos o tempo com cultura !
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