Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do
Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba
Estranho
um tanto ver alguém de máscara facial em locais públicos. O que foi obrigatório
em 2020, hoje soa um tanto curioso. A pessoa está doente ? Pensamos. Olhando
para trás, lembramos que nesta semana, quatro anos atrás as lojas entoavam um
toque de recolher. Shoppings fechavam suas portas devido à um vírus que desde
dezembro de 2019 assolava a China e depois espalhou-se rapidamente pelo mundo.
A covid-19 nos apresentava apenas sinais de alerta.
Um
ano atrás, a OMS declarou um afrouxar nas normas com o fim da emergência de
saúde pública internacional. Mas, mesmo assim, não ficamos totalmente longe da
doença. A pandemia ainda está em curso.
Eis
que, em março de 2023, a doença me atinge pela primeira vez. Três dias na cama
e cinco quilos a menos. A doença se espalha em meu lar. Preocupação. No início,
eram pelo menos 15 dias de afastamento do ambiente social, quando não as
intubações eram necessárias e duravam semanas ou meses, numa época em que
vacina ainda não estava disponível. Se bom ou não, ela me atinge numa época
posterior a isso, mesmo após aplicação de quatro doses contra a covid. Confesso
que foi uma espécie de gripe da qual involuntariamente já experimentei
anteriormente. Corpo mole, dor de cabeça, mal estar, febre, calafrios ... Deixa
a gente imprestável. Sem vontade de nada. Quase uma semana sentindo-se inútil
aos afazeres de rotina.
Hoje,
quatro anos após conhecermos a síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV 2),
revemos o passado e notamos quantas pessoas deixaram nosso convívio. Notei isso
quando atualizei minha lista de telefones. Esse já foi ... Fulano nos deixou
... Nossa ! Que mundo louco ! E as incertezas de outros que foram precocemente além
de pairar a dúvida quanto à eficiência das vacinas. Não é verdade ? Nas
conversas com amigos, é comum ouvir : “será que ele não morreu por consequência
da vacina?”.
Em
2020, as festas foram canceladas. O aniversário de meio século foi adiado,
mesmo depois de tanto planejamento. A cidade parou. Apenas supermercados e
farmácias funcionaram. Encontros demoram para acontecer e muitas vezes ao ar
livre e uma pessoa bem distante da outra. Como a gente poderia imaginar que a
respiração de outra pessoa poderia nos matar ?
Hoje,
motivada pelo confinamento, a cachorrinha sabe que o delivery chegou ao ouvir a
buzina da motocicleta e, mesmo que seja no vizinho, nos convida à ir a porta
para saborear-se com um possível aroma de pizza ou qualquer outro prato
gastronômico. A festa de aniversário brutalmente interrompida, neste ano, vem
sendo planejada com convidados e mais convidados. Viva a vida ! E sem pensar no
uso de máscara facial, apenas na felicidade do encontro com amigos e
familiares.
Dizem
que o passado nos ensina a não cometer os mesmos erros. Mas é difícil acreditar
nisso. Este disco toca um lado só. E os erros se repetem, desrespeitando as
gerações que nascem e morrem.
Cem
anos atrás tivemos a pandemia da gripe espanhola. Parou tudo. Escolas, jogos de
futebol, comércio ... a vida !
Piracicaba
não ficou distante desta pandemia. Importada da Europa durante a Primeira
Guerra, ela deixou a cidade de quarentena, matando 88 pessoas e atingindo
outras 4.178, em especial as residentes no Porto João Alfredo (Ártemis) e
outros bairros então considerados como zona rural. A cidade tinha perto de 30
mil habitantes. O prédio da Escola Sud Menucci virou hospital e internações
eram feitas nas residências dos adoentados.
Que
tudo isso seja um exemplo para a humanidade.
(Publicado no Jornal de Piracicaba de 20/03/2024 e na Tribuna Piracicabana de 26/03/2024)
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