Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do
Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba
Foi
no dia da mentira. Uma quarta-feira. 1º de abril de 1896. Começava a história
da Escola Agrícola Prática, na Fazenda São João da Montanha, “distante” três
quilômetros do Centro da cidade, conforme anunciado pelos jornais da época.
Este era o embrião da atual Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz,
campus da USP em Piracicaba.
Foi
neste dia que se instalou a pedra fundamental da Escola Prática Agrícola. Esta
foi a data inicial de um sonho, sendo que sua elaboração começou anos antes e
sua concretização só ocorreu anos depois. Para conhecer um tanto desta história
consultamos Samuel Pfromm Neto, Marly Therezinha Germano Perecin, Manuel de
Arruda Camargo e Mário de Sampaio Ferraz.
O
espaço da Fazenda era de 131 alqueires de terra, ou 319 hectares “entre terras
de cultura, pastos, mattos e capoeiras”, com predominância de “terra roxa”.
Durante
sua estada na Europa, adquirindo conhecimento, tecnologia e socializando-se com
pessoas, Luiz de Queiroz retorna a Piracicaba com a intenção de criar uma escola
prática de agricultura. À princípio, pertenceria à iniciativa particular. Para
tanto, adquiriu a fazenda de São João da Montanha, na qual planejou a área com
plantas que previam construções de edifícios. Na ponta do lápis, Queiroz
percebeu que a conta era mais alta e não teria recursos financeiros para
colocar em prática o projeto. Jogou a ideia ao Governo do Estado, doando ao
poder público tal fazenda São João.
Bernardino
de Campos, presidente do Estado de São Paulo, em 17 de novembro de 1892, assina
o decreto estadual 130 aceitando a doação da área para “educação profissional
dos que se dedicam à lavoura”. Este, envia mensagem ao Congresso do Estado,
através da Secretaria de Agricultura, com base na lei nº 26 (22 de maio de
1892), na qual o governo estadual tem carta branca para fundar uma Escola
Superior de Agricultura com estações agronômicas e campos de experiência.
Bernardino diz a iniciativa privada sofreria com o sacrifício pecuniário pela
doação da fazenda, “em prol do ensino da agricultura, base da riqueza e
prosperidade deste Estado”.
Houve
desapropriação da área em benefício ao erário público estadual. A lei 193, de
agosto de 1893, abriu crédito de indenização a Luiz de Queiroz pela cessão da Fazenda
São João da Montanha. A dotação também previa destinação orçamentária para
adaptação da área “ao fim que se destina”.
O
Estado começa a executar o que previa o plano de adaptação das terras. O
engenheiro Leão Morrimont estava à frente. As obras seguiram regulamente até
que este foi dispensado em novembro de 1896, sendo substituído por Adolpho
Barbalho Uchoa Cavalcante. Meses depois, decisão de Peixoto Gomide interrompe
os trabalhos.
Área
ganha, trabalho a ser colocado em prática, faltava a regulamentação do ensino
agronômico no Estado. Eis que em 1899, é promulgada a lei 678 dando bases para
o decreto 683ª, criando a Escola Agrícola Prática em 29 de dezembro de 1900.
Cândido Rodrigues, então Secretário de Agricultura do Estado, assinou o
decreto. Assim, a Fazenda de São João da Montanha passa por seus derradeiros
anos, abrindo espaço para o que se propagou como Escola Agrícola.
Desta
forma, a pedra fundamental é lançada. Era necessária adaptação da área,
facilitada por uma topografia plana e regular, com facilidade de circulação de
máquinas agrícolas. A maior elevação era de 66,60 metros acima na nascente do
então Piracicaba-Mirim, ou ribeirão do Piracicamirim. O espaço “presta-se pouco
á cultura do café, muito às de cana, milho, feijão etc, frutas e forragens
diversas”, propagou-se à época. Também foram cultivados alfafa e algodão.
Em
3 de junho de 1901, a história é reescrita. A Fazenda São João passa a ser
denominada Escola Agrícola Prática. Nesta data, são inaugurados os primeiros
cursos da instituição em solenidade presidida por Candido Rodrigues, Secretário
da Agricultura. E a pedra ? Onde estaria ?
(Publicado no Jornal de Piracicaba de 3 de abril de 2024 e na Tribuna Piracicabana de 06 de abril de 2024)
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