Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba
Ainda
de setembro de 1932, jornais de Piracicaba traziam ânimos aos conterrâneos que empunhavam
armas pela causa constituinte na Revolução iniciada em 9 de julho daquele ano.
Eis que em 2 de outubro, as lideranças paulistas cedem e firmam armistício com
as forças federais de Getúlio Vargas. Acaba o último conflito armado em solo
brasileiro movido pelos paulistas que exigiam uma nova Constituição, a qual
viria dois anos depois.
O
fim do levante civil pegou todos de surpresa. Em 2 de outubro de 1932, jornais
locais – O Momento, Gazeta de Piracicaba e Jornal de Piracicaba – ainda traziam
artigos para elevar o moral dos cidadãos que por aqui se dedicavam aos
voluntários piracicabanos. Eram duas frentes: as dos piracicabanos que foram ao
conflito armado e os piracicabanos e piracicabanas que aqui ficaram e atuavam
como cozinheiros, enfermeiras, costureiras e outras formas de mão de obra para
garantir o abastecimento das tropas. A partir de 3 de outubro, nenhuma nota
mais foi publicada sobre a Revolução. Pudera ! Com seu fim, o estado de São Paulo
passou a sofrer retaliações com a deportação para Portugal dos líderes que
estavam na capital paulista. Começavam as retaliações, os julgamentos
questionáveis, o medo social ...
Por
volta do dia 12, pequenas notas nos jornais faziam referências aos piracicabanos
que retornavam aos seus lares. Há depoimentos de que alguns que pegaram em
armas pensando em conseguir emprego no caso da vitória paulista. Triste
realidade, pois, a cidade afundava-se com a falta de insumos desde a farinha
para o pão ao combustível para os veículos. Era necessária uma reconstrução
local. Não a toa, o comércio se fortaleceu encontrando a necessidade de união criando
sua associação comercial exatamente em julho de 1933, um ano após o início da
Revolução.
Jornais
locais passavam a ouvir os piracicabanos que retornavam. Alguns acusavam
companheiros como pode ser visto nas páginas dos matutinos de então, com
direito a réplica, tréplica, quadruplica e assim por diante, num incessante
bate-boca popular. Houve manifestações, missas em homenagens aos falecidos e
constituição de comissões para criar o jazigo do Soldado Constitucionalista no
Cemitério da Saudade. O Monumento na Praça 7 de Setembro, só viria no dia 6 de
setembro de 1938.
O
sentimento, a honra a honestidade eram diferentes na época. Pode notar-se isso
na carta de Antonio de Mattos, pertencente à Coluna do Ten. Cel. Romão Gomes:
“Eu recusei promoção a sargento porque acho que não tenho competencia. Quero
servir a S. Paulo, como soldado mesmo” (Gazeta de Piracicaba, 28/09/1932).
De
30 de setembro a 4 de outubro, silêncio geral. A Gazeta de Piracicaba em 5 de
outubro traz mensagem de moradores de Campinas que se refugiaram por aqui,
agradecendo a hospitalidade, pois a cidade foi bombardeada pelo ar e em
Piracicaba encontraram a paz neste período turbulento. No agradecimento,
acreditavam que estava no momento de retornar para a cidade natal.
Dia
6 de outubro, também na Gazeta: “Começam a chegar os primeiros legionários do
Ideal, os soldados conscientes da Liberdade, que deram tudo o que podiam dar
para reintegrar a Patria na communhão da Lei, da Justiça e do Direito”.
Moral
elevado: “E elles chegam – nos olhos o brilho de um enthusiasmo que não
esmoreceu – para o aconchego carinhoso da família, para o convívio acalentador
dos amigos. Piracicaba, berço do civismo, cidade tradicional que sempre foi
vanguardeira nos grandes movimentos de opinião que visaram engrandecer o
Brasil, Piracicaba, meiga e carinhosamente recebe com flores os seus filhos
queridos, que sempre a fizeram grande e respeitada. Uma multidão incalculavel,
toda a sua população, espera nos gares das nossas ferrovias a chegada dos
comboios que conduzem os phalangiarios heroicos e bravos da mais nobre elevada
causa que jamais se agitou no scenario da nossa vida politica. Partiram sob o
olhar maternal e confortados pelo enthusiasmo quente da mãe carinhosa que,
agora, no seu regresso – que é glorioso como foi a sua partida – os recebe
entre abraços e acclamações. Piracicaba, altiva e patriota, ainda uma vez é
digna das sua tradicções gloriosas”. Autoria desconhecida, da redação daquele
jornal.
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