Edson
Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de
Piracicaba
Ainda evocando a
mídia local, vários nomes surgem. Muitos deles são dos impressos, tal qual das
pessoas que fizeram a arte da escrita diária na Noiva da Colina. Universo
estritamente masculino por muito tempo, relembraremos alguns profissionais que
escreveram nossa história dia a dia. Outros conduziram a imprensa como
diretores ou proprietários. Aliás, rica é a história de Piracicaba contada na
época do Império através das páginas da Gazeta de Piracicaba que surgiu em 1882
e até o final do século narrou a rotina local, sendo fonte de pesquisa para os
Almanaks posteriores assim como para historiadores como Mário Neme, Leandro
Guerrini, Guilherme Vitti e tantos outros aos quais Piracicaba deve se render
por ter viva esta tão longínqua memória.
“Piracicaba”,
pelos registros existentes, foi o primeiro jornal local. Totalmente precário –
era escrito a mão – com textos de Brasílio Machado que aguça a curiosidade de
qualquer um para saber como ele enxergava a sociedade no ano de 1874 quando
lançou o periódico em 4 de julho. Assim como outros jornais, circulava de
quarta e sábado, cobrindo os fatos semanais. Curioso é ver que esta
periodicidade reinou na cidade quase até os anos 1940. Quem sabe Piracicaba
fosse pacata demais e as notícias não circulavam como na atualidade...
A Gazeta teve
como proprietário Mário Arantes, renomado professor do ensino elementar. Antes
dele, na sua primeira circulação em 10 de junho de 1882, seus responsáveis
foram Vitalino Ferraz do Amaral e José Gomes Xavier. Ferraz era conhecido por
seus discursos inflamados sendo orador na inauguração da água encanada e na
comemoração pela proclamação da República.
Outro professor de
renome nacional foi Alceu Maynard Araújo que por muitas vezes utilizou-se do
pseudônimo Almayara, numa corruptela das iniciais de seu nome. Recentemente, a Cinemateca
Brasileira resgatou uma obra sua, não impressa, e sim um documentário em
celuloide que mostra as regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste brasileiro. Foi
um expositor exemplar das culturas e do folclore interioranos.
Dias atrás, aqui
nestas páginas, foi escrito sobre o vínculo de piracicabanos com Monteiro
Lobato, grande inteligência deste país. Pedro Ferraz do Amaral foi um destes
nativos que partiu para a capital atuando como secretário de redação nos anos
de 1923 e 1924 da “Revista do Brasil”, importante produção de Lobato em
parceria com Breno Ferraz do Amaral (seu irmão). Pedro também atuou na imprensa
paulistana em “A Tarde”, “Correio Paulistano”, “Gazeta”, “Diário da Noite” e
“Diário Nacional”. Breno do Amaral foi levado à capital pelo amigo Léo Vaz.
Aqui em Piracicaba ambos assinaram o semanário “A Noiva da Colina”. Na capital
atuou no “Estado de S. Paulo”, “Diário Nacional” e “Correio de S. Paulo”.
Se houve quem
fazia a matéria-prima do jornalismo, existiu também aquele grupo que colocava
palavras e pensamentos no físico, o tangível jornal, ou a revista ou ainda o
livro. Um destes que por toda a vida dedicou-se ao texto impresso foi Fernando
Aloisi, falecido em 1965. Deixou uma herança ainda viva em muitas hemerotecas e
bibliotecas. A Tipografia Aloisi publicou os principais trabalhos dos grandes
pensadores locais. Aloisi esteve na fundação do jornal “O Momento” e também no
segundo “Diário de Piracicaba”, 1935.
Nas páginas dos matutinos, “Piracicaba não é cidade morta” nominou uma coluna publicada no “Jornal de Piracicaba” por Silvio de Aguiar Souza, pela alcunha de Antônio Calixto. Ironia ácida sobre a sociedade local com direito a colocar o dedo na ferida. Seu pai, Osório Dias de Aguiar e Sousa lhe inspirou a verve jornalística. Este, por sua vez, colaborou com jornais locais e de Capivari, onde nasceu. Escrevia sob o pseudônimo Orênio Sabaúna. Além da escrita de extensa criação de poesias e artigos, foi jurista e juiz de direito em várias cidades interioranas. Rica história.