Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba
Em
busca de homens honestos, Diógenes saía pelas ruas empunhando uma lanterna. O
filósofo grego viveu 400 anos antes de Cristo. Perambulava pelas e morava nas
ruas. Suas ideias não eram bem aceitas pela sociedade, a qual considerava
corrupta. A mesma o condenava ser lelé da cuca por procurar gente honesta, numa
crítica aos regimes políticos.
A
imprensa local também buscou encontrar os honestos. Porém, um dos jornais tendia
no maior estilo non sense já visto em Piracicaba. Um jornal que tinha como
redator responsável um tal de King Kong não era bem o que o leitor esperava e
muito menos inspirava credibilidade. Mas assim foi o semanário “A Lanterna de
Diógenes”, publicado no início dos anos 1930. O responsável era Ângelo
Sangirardi, membro por quase duas décadas antes do Instituto Histórico de São
Paulo. Este é um dos jornais que guardo a sete chaves, tendo-o recebido de meu
pai. Nele estão exemplos esquecidos da grande imprensa, seja pela crítica feroz
assim como o jornalismo sem qualquer pretensão informativa.
“A
Lanterna” foi um jornal satírico ou como estampava sua capa “órgão de caráter
piadístico e espinafrativo”. Sua organização era apresentada por pseudônimos
como Conselheiro Espinafre ou o Espadachim das Arcadas. A crítica era ao jeito
das pessoas e seus costumes citando nomes irreais mas que lembravam a sociedade
como Sebastião Solene (para Sebastião Nogueira de Lima, delegado), Lauro Capilé
(para Lauro Catulé de Almeida, professor e vereador), entre outros.
À
época, a sociedade não entendia bem esse mise-en-cène das prensas locais. Mas a
coisa pegou como sátira numa época de repressão pela Revolução de 1930 e logo
em seguida pela censura imposta na Revolução Constitucionalista. Isso se torna
evidente pois desfilavam pelas páginas da “Lanterna” patrocínios de empresa
renomadas como A Porta Larga, Casa Pernambucanas, macarrão Aurora, Gatti
Relojoaria e os advogados Jacob Diehl Netto e Moacir Amaral dos Santos
(ministro do STF).
O
estilo ácido e irônico era seguido através dos AlMANHAques (A Manha era uma
corruptela do jornal A Manhã) do Barão de Itararé, o jornalista Apparício de
Torelly que possuía uma tremenda criatividade numa época em que as prensas
ainda viviam da linotipia e somente muitos anos depois renderam-se ao past-up.
Um humor que nos anos 1980 foi sugado pela TV Pirata na Rede Globo e pelos
jornais Casseta Popular e Diário Planeta, que se fundiram e na TV renderam o Casseta
Planeta.
Mas
as prensas locais tiveram muitos expoentes que são esquecidos dos estudos
acadêmicos. Um destes foi João Gomes de Escobar que montou uma tipografia
(Popular) na cidade na segunda metade do século 1800. Foi ele o autor do
segundo jornal publicado na cidade intitulado “O Piracicaba” cuja primeira
edição circulou em 1° e março de 1876. Ao contrário de “A Lanterna”, as
produções de Escobar eram bem mais sérias. Ela professor e poeta e “agitador”
social com ideias avançadas. “Palavras de Deus” foi outro jornal sob sua
responsabilidade, servindo de porta voz para os protestantes locais. Também
dirigiu “A Democracia” (1878), um libelo contra a monarquia e foi redator de “A
Alvorada” (1880) com críticas à sociedade de então.
Décadas
depois, mais precisamente nos anos 1970 tivemos a revista Aldeia que, de forma
suave, pretendia ser o Pasquim da terrinha. Muito bem feito e conduzido,
merecedor de um destaque futuro. Com vida curta mas com marcas deixadas, O
Jornal do Povo Piracicabano também contestava a sociedade e a política. Deixou
uma história que nos faz repensar e reestudar as prensas locais.
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