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quinta-feira, 9 de maio de 2024

Ainda aos trabalhadores

 Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba

 

No mês dos trabalhadores, nada mais justo que lembrar alguns empreendedores que geraram oportunidades de trabalho na cidade. Destaque na primeira metade do século passado, Antônio Borja Medina utilizou-se da mão de obra local para construir o Teatro São José (inaugurado em 1927). Também foi ele o idealizador do Clube Piracicabano, hoje ocupado pelo Clube Coronel Barbosa. Nos anos 1930 edificou o Cine Broadway que a geração anos 1980 conheceu por Cine Tiffany. Todas estas obras estavam situadas na rua São José, ao entorno da praça José Bonifácio.

Era um trabalhador público ou servidor municipal quem lia as resoluções da Câmara Municipal. Isso no período em que a povoação se formava. Como a alfabetização não era acessível a grande parte da população, as deliberações políticas eram lidas na praça central da cidade, normalmente pelo porteiro ou outro funcionário qualquer. Ao final das sessões da Câmara, este nobre representante da servilidade pública anunciava as decisões da edilidade. Claro que havia público, que esperava pelas boas novas, algumas nem tão boas assim, e aplaudiam as decisões. Existiam aqueles que pigarreavam ou soltavam longos muxoxos em desaprovação.

Leandro Guerrini relembra numa de suas obras as estradas que serviam Piracicaba. No final do século retrasado, o que existia era a pá na mão e veículos de tração animal. Estradas eram de terra sovada. As estradas, atalhos, rócio ou picadões eram de responsabilidade dos donos das terras, fazendeiros e sitiantes. A mão de obra era por conta própria, colocando estes caminhos a disposição de qualquer pessoa. Eis que em 30 de maio de 1892 foi apresentado pela intendência municipal a proposta que reparo e preservação das estradas ficavam a cargo do município. Ufa, exaltou um sitiante !

Empreendedores também surgiram do nada e aqui fizeram fama e fortuna. Alemães, italianos ... todos atraídos pela propaganda em decorrência do fim da escravidão. Vieram tentar vida nova. Dentre eles está Giuseppe D’Abronzo que deixou a Itália com 62 anos em 1896. Instalou-se com a família em Mombuca trabalhando no cultivo e colheita de café e algodão. Seu filho, Paschoal, vem a Piracicaba em 1910 e começa a fazer bebidas e vinagre na Vila Rezende, na travessa Maria Maniero, perto do Engenho Central. A história prosperou e a família foi produtora de um dos aperitivos mais conhecidos do Brasil: a Caninha Tatuzinho, fabricado pelos D’Abronzo de 1953 a 1969. A empresa, sediada na avenida Rui Barbosa, tinha estoque de 10 milhões de litros de caninha empregando 300 trabalhadores de forma direta e frota de 60 caminhões que viajavam pelo país.

Outra empresa com o mesmo porte de funcionários era a Fábrica de Tecidos Arethusina, instalada à beira do rio Piracicaba, onde hoje está a avenida Beira Rio. O espaço anteriormente foi a Fábrica de tecidos Santa Francisca de Luiz de Queiróz. A Arethusina foi uma das mais bem conceituadas contratante da mão de obra local e situou-se como uma das maiores indústrias paulistas. Era de propriedade de Rodolpho Nogueira da Rocha Miranda, depois deputado estadual e federal além de ministro da agricultura.

Aos 14 anos de idade, em 1890, Pedro Morganti deixou Massarosa, Itália, rumo a São Paulo. Voltou a Itália com seu irmão para fazer o serviço militar. Quando na juventude, dormia em sobre o balcão de venda de café numa torrefação na capital paulista. Em 1910 adquiriu o Engenho Monte Alegre, em Piracicaba. Empregou centenas de pessoas e formou um conglomerado comercial que envolvia o Monte Alegre, Santa Rita, Santa Rosa e Taquaral, além de outras cidades. São exemplos de trabalhadores que fizeram desta cidade ser o que é na atualidade.  

(Publicado no Jornal de Piracicaba de 08 de maio de 2024)

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