Edson Rontani Júnior, jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba
Confesso que fiquei maravilhado. Era lá por volta de 1981 ... 82 ... Não me recordo ao certo. Num álbum comemorativo que vi na casa de minha avó Julieta deparo com um Nhô Quim em carne em osso. Era um álbum de família de uma comemoração esportiva. Então, uma criança com 12 anos, fiquei boquiaberto. Por vários anos só conhecia o Nhô Quim pelos desenhos de meu pai publicados neste JP.
Ver
as fotos, era algo que nos fazia viajar pela imaginação, como o que ocorrera
nesta mesma época em que Robin Williams personificou Popeye no cinema. Oras !
Como pode criar vida um personagem criado no bico da pena de nanquim ? No papel
é fácil caricaturar (que vem de carregare, em italiano) em detalhes como as
bochechas, o bíceps de Popeye e o jeito tresloucado quando come o espinafre
enlatado. Mas na vida real, não é nada comum.
Foi
assim que notei que o Nhô Quim era igualzinho ao do papel. Bigode, chapéu de
palha, calça “pula brejo” e botina, entre outros detalhes. Sim, muito antes do
termo existir, o avatar era vivido por Cícero Correa dos Santos, fotógrafo que
deixou sua marca na imprensa local no século passado. Nasceu em Rio Claro em
1915 e faleceu em Piracicaba no ano de 1994. Carnavalesco, fã e diretor do XV
de Novembro, recebeu o nome da praça onde está a Sapucaia ao lado do Estádio
Barão da Serra Negra além de nominar o Centro Poliesportivo das piscinas do
Clube Cristóvão Colombo, entre tantas outras homenagens.
Todo
este enunciado foi para lembrar um dos retratistas mais queridos da cidade.
Pessoa ímpar que fez centenas de amizades e registrou a vida social de
Piracicaba.
Outros
registros feitos na cidade, aqueles iniciais de nossa história, remontam o ano
de 1895. Estes, não fotográficos e sim fonográficos. Adelardo de Aguiar e Souza
possui seu nome nos anais de Piracicaba como sendo o proprietário de um – se não
o – dos primeiros fonógrafos da cidade. O aparelho era novidade no final do
século retrasado. Executava músicas. Era um trambolho mas também gravava sons
em cilindros de cera que mais apresentava ruídos e chiados. As pessoas eram
felizes mesmo assim, com tamanha tecnologia inovadora. Um destes exemplos,
moderno para a época e gravado na década de 1910 pode ser conferido no site da
Biblioteca Nacional, na condução de Fabiano Lozano, em meros 30 segundos de
zunidos .... ops ... de reprodução. Em setembro de 1895, Adelardo resolveu
apresentar sua fantástica novidade tecnológica gravando discursos de Joaquim
Morais Sampaio (intendente municipal) e Antonio de Melo Cotrim (professor). Uma
curiosidade que era noticiada nos jornais locais !
Voltando
à arte fotográfica, a imagem do salto do rio Piracicaba foi impressa, em 1897
(!!!) num poster de 1,20 metro por 30 cm de largura, como presente para o
jornal Gazeta de Piracicaba. A obra foi de Arthur Lobenwein, um dos primeiros
fotógrafos da cidade. Natural da Áustria, criou em Piracicaba a Fotografia
Vienna situada num trecho onde hoje está a rua Governador Pedro de Piracicaba
sem maiores referências. Foram de sua inspiração e cessão as fotografias que
compuseram o Almanak de Piracicaba para 1900, talvez uma das referências
históricas mais importantes da cidade, de forma graciosa, compondo 10 cenas que
envolvem a Catedral de Santo Antonio e o Engenho Central.
Assim
é o cenário fotográfico de Piracicaba explorado dias atrás nestas páginas e que
remontaram curiosidades e manifestações pelas mídias sociais.
A
fotografia foi uma arte hoje legada a banalidade pelos smartphones e mídias
sociais que expões fatos fulos à nossa rotina numa sequência de informações que
nos bombardeiam entre o irreal e o banal. Democratiza e torna acessível uma
ferramenta restrita a poucos, anos atrás, mas nos joga num caos de informações
que passam por nosso feed como se não tivesse importância alguma.
Aos
pioneiros, nossa homenagem !
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